Após o referendo ordenado pelo Kremlin, Putin vai anunciar a tomada definitiva dos territórios
O referendo sobre o destino dos territórios ocupados pela Rússia, realizado nas regiões de Donetsk e Luhansk, no Leste da Ucrânia e Kherson e Zaporizhzhia, no Sul, terminou nesta terça-feira. Agora, o presidente Vladimir Putin prepara-se para anunciar que esses territórios serão anexados de forma definitiva à Rússia, como aconteceu com a Crimeia, após a invasão de 2014. O anúncio deve ser feito na sexta-feira e isto significa que a Ucrânia vai perder cerca de 15% de seu território.
Embora a consulta popular não tenha reconhecimento internacional e muito menos na Ucrânia, Moscou prepara a anexação, ignorando protestos da comunidade internacional. Pelo menos 4 milhões de moradores das quatro regiões foram convocados para votar no referendo envolto em suspeitas.
Em março de 2014, o governo russo utilizou o mesmo expediente. Organizou um referendo na Crimeia e, ao final, anunciou a anexação do território, sem que os resultados da consulta tivessem comprovação por observadores internacionais.
Além disso, a anexação leva a guerra a um outro patamar. Se a Ucrânia tentar retomar essas regiões, Moscou pode alegar que se trata de um ataque “à soberania do território russo”.
Os referendos encenados, que são ilegais sob a lei ucraniana e internacional, devem resultar no “apoio” público à adesão à Rússia. No entanto, a Rússia não controla totalmente nenhuma das quatro regiões, militar ou politicamente. Muitos moradores foram deslocados pela guerra e há muitos relatos de civis sendo forçados a votar sob a mira de armas ou sob outras formas de coerção. Líderes pró-Kremlin das partes de Luhansk controladas pelos separatistas já declararam o referendo “concluído”.
Na Rússia, há temores crescentes, principalmente entre homens em idade de combate, de que, uma vez que as regiões ucranianas sejam anexadas, Putin declarará lei marcial, fechando a possibilidade de ir ao exterior para escapar do recrutamento. Com este anúncio esperado de Putin, já há uma desordem crescente nas principais passagens da fronteira.
Autoridades da região da república russa Ossétia do Norte, na fronteira com a Geórgia, que tem sido um dos principais centros de trânsito para russos que fogem da mobilização militar, disseram hoje que estavam considerando declarar estado de emergência enquanto milhares de carros faziam fila para cruzar o posto de controle. O escritório do Ministério do Interior da Ossétia do Norte disse que montaria um escritório de alistamento improvisado próximo ao cruzamento.
Grupos de direitos humanos relataram que alguns russos foram expulsos de postos de fronteira, citando decisões de seus comissariados militares locais que proíbem as saídas do país. Já a Geórgia disse que aumentou o número de guardas no posto de controle, mas não viu motivo para fechar a fronteira.
O ministro de Assuntos Internos da Geórgia, Vakhtang Gomelauri, disse que todos os dias cerca de 10 mil russos chegam ao país, quase o dobro do número em relação a 21 de setembro, quando a mobilização foi anunciada.
No Cazaquistão, outro país vizinho que permite a entrada sem visto para portadores de passaporte russo, os moradores da cidade fronteiriça de Uralsk transformaram um cinema em um abrigo temporário para russos que não conseguiam encontrar um quarto de hotel ou apartamento para alugar. O presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, disse que seu país tem a obrigação de ajudar os russos que chegam.