COMPORTAMENTO

Os indecisos podem demorar mais, mas tendem a errar menos

Pesquisa avalia o grau de indecisão e mostra como algumas pessoas escapam de armadilhas

Por: Júlia Castello
Da redação | 26 de dezembro de 2022 - 21:55

A indecisão por mais que seja uma característica comum em muitos indivíduos, ela é, ou pelo menos era, considerada algo negativo. Agora, um estudo mostrou que os indecisos tendem a cometer menos erros, já que a demora na tomada de decisões os protegem de algumas armadilhas. A pesquisa foi divulgada em artigo científico da professora de psicologia social da Universidade Técnica de Dresden, na Alemanha, Iris Schneider e a pesquisadora de doutorado Jana-Maria Hohnsbehn.

As pesquisadoras utilizaram o método chamado de “traço de ambivalência” que analisa os pensamentos e sentimentos quando o indivíduo está julgando uma situação para tomar uma decisão final. Durante a pesquisa, os participantes foram solicitados a avaliar afirmações como: “Meus pensamentos são muitas vezes contraditórios; Muitas vezes me sinto dividido entre os dois lados de uma questão; Às vezes, quando penso em um tópico, quase parece que estou mudando fisicamente de um lado para o outro”.

Indecisos são menos propensos ao viés de confirmação e de correspondência. (Foto: Pexels)

Grau de indecisão

Por meio das declarações, segundo as pesquisadoras, é possível avaliar o nível do “traço  de ambivalência”. As pessoas com “alto traço de ambivalência” levam mais tempo para tomar decisões e por isso são definidas como pessoas indecisas. Entretanto, Hohnsbehn e Schneider descobriram que estas mesmas pessoas são menos propensas a vieses ao fazerem seus julgamentos. Estes vieses são apontados como armadilhas que aumentam as chances do indivíduo de cometer um erro.

Um deles é o viés de confirmação, quando se busca informações que concordam com sua suposição, em vez de procurar evidências de que se pode estar errado. Dessa forma, a pesquisa mostrou que as pessoas com “alto traço de ambivalência”, ou mais conhecidas como indecisas, questionam mais sua suposição, a fim de garantir que possuem as informações necessárias para chegar a uma resposta correta.

Mais receptivos

Ao questionar mais, os indecisos ainda tem uma tendência de ter a mente mais aberta para declarações discordantes de seu ponto de vista inicial. Hohnsbehn e Schneider mostraram que pessoas de “baixo traço de ambivalência” eram mais suscetíveis a descontar estas informações. Apesar do viés de confirmação ser o erro mais comum, a pesquisa também conseguiu precisar a chance de cair no “viés de correspondência”.

Esta armadilha é a tendência de ignorar o contexto do comportamento de alguém e atribuir quaisquer falhas e sucessos diretamente à própria pessoa. Por exemplo, uma pessoa escorregou. O viés de correspondência pode levar a concluir que a pessoa é desajeitada, um fator inteiramente ligado a pessoa, do que por exemplo, que ela escorregou por um fator externo, como o piso estar escorregadio. Quanto maior o nível do traço de ambivalência, menor a chance de se utilizar do viés de correspondência.

Demorar muito para tomar uma decisão pode gerar problemas como a ansiedade. (Foto: Pexels)

Alerta

As descobertas dos estudos de Hohnsbehn e Schneider têm apresentado grande valor para o campo de pesquisa da psicologia, já que os “vieses” são os erros cognitivos mais comuns dos seres humanos, impedindo que as pessoas tomem decisões mais assertivas e se tornem mais sábias. De acordo com a doutoranda Jana-Maria Hohnsbehn a indecisão deve ser aceita e até valorizada. “Isso pode nos dar uma pausa necessária, sinalizando que as coisas são complexas e que precisamos de mais tempo para pensar com mais cuidado sobre nossa decisão”, afirma no artigo.

A pesquisadora pontua, entretanto, que é necessário equilíbrio. A indecisão extrema pode provocar problemas, explicando inclusive, o porquê das pessoas de “alto traço de ambivalência” avaliar maior insatisfação com suas próprias vidas. Uma dica simples segundo ela é definir um limite de tempo para a decisão, ou até transformar o problema em uma série de tarefas, como dedicar algumas horas do dia na busca de novas informações para chegar finalmente em um ponto final.

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