SAÚDE

O pior nem sempre está por vir

Pensar e apostar no pior gera prejuízos à saúde física e mental

Por: Júlia Castello
Da redação | 11 de agosto de 2022 - 22:05

Pensar e esperar sempre o pior das situações e das pessoas está longe de ser apenas pessimismo. Um estudo da Organização Mundial da Saúde realizado em 15 países, entre eles o Brasil, mostrou que 20% dos cidadãos atendidos em serviços de atenção primária sofriam de dores causadas por conflitos psíquicos e não por problemas físicos.

O hábito de esperar o pior é identificado como uma distorção cognitiva, ou seja, uma maneira distorcida de interpretar as situações do dia a dia, que constituem um indício de baixa autoestima. Alguns estudiosos preferem chamar isso de catastrofização. O problema não causa apenas transtornos de ansiedade e outras doenças mentais, como pode gerar dores físicas. Quando os pensamentos que provocam angústias se manifestam por meio de sintomas ou doenças corporais, isto é chamado de somatização.

O psicólogo e doutor em Neurociência do Comportamento da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Yuri Busin, explica que a catastrofização não é considerada uma doença, segundo o Código Internacional de Doenças. Apesar disso, deve ser tratada pois gera impacto direto na vida do indivíduo. Além da ansiedade, um estudo da Escola de Medicina da Universidade da Pensilvânia mostrou que em casos mais graves o pensamento constante de que as coisas vão dar errado pode causar transtornos pós-traumático e obsessivo-compulsivo, além de certos tipos de psicoses.

Os pesquisadores do Departamento de Psicologia Experimental-Clínica e da Saúde da Universidade de Ghent, na Bélgica, explicam que a preocupação excessiva e a ansiedade gerada pela catastrofização, cria uma experiência aumentada das sensações corporais. Isso quer dizer que a mente fica mais focada na dor. Ou seja, um incômodo nas costas, pode gerar uma dor intensa na região.

pessimismo

Pensamentos provocam angústias e se manifestam por meio de sintomas. Foto: Pexels.

“Em uma crise de pânico, por exemplo, o paciente pode ficar 20 minutos com a sensação da perda de ar”, conta o psicólogo Yuri Busin. A dificuldade de respirar neste caso não é causada por um problema físico, um bloqueio no sistema respiratório, mas pelo pânico causado pela ansiedade. Em boa parte dos casos, isso pode estar relacionado com situações do dia a dia.

Entretanto, os pesquisadores da Universidade de Ghent, na Bélgica, conseguiram observar que a catastrofização pode ser herdada. Seja na questão genética, antes mesmo de nascer, seja após o nascimento, com a criação e contato com a família. Se a pessoa é criada por pais que sempre pensam e esperam o pior das situações, é bem provável que ela também terá este hábito.

Dessa forma, o pensamento negativo pode acontecer em qualquer situação, das mais simples às mais complexas do dia a dia. Andar de avião, começar um novo trabalho, iniciar um novo relacionamento, são alguns exemplos.

Existe cura?

A catastrofização cria preocupações muitas vezes desnecessárias, já que o pior pode NÃO acontecer. O primeiro passo é identificar se o hábito de pensar no pior é frequente e de que forma ele está afetando a vida pessoal, profissional. “Recomendo sempre que a pessoa consulte um psicólogo. O tratamento poderá ser feito por meio deste, ou em casos mais graves, por meio do uso de medicação, também com acompanhamento de uma psiquiatra”, afirma Yuri Busin.

 

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