Cerca de 70% da população tem dívidas no cartão de crédito, hipotecas de casas, prestações de escola e carro
Mais de 60% dos norte-americanos vivem de contracheque para contracheque, sendo que 45% deles têm salários altos, acima de 100 mil dólares/ano (cerca de 520 mil reais). Além disso, cerca de 70% têm dívidas no cartão de crédito, hipotecas de casas, prestações de escola, carro e outras. A inflação alta, provocada pelos aumentos nos preços dos combustíveis e alimentos, também dificulta o fechamento das contas no final do mês.
Apesar disso, os americanos estão indo às compras. Os gastos pessoais aumentaram 1,8% em janeiro, de acordo com o Departamento de Comércio dos EUA. Os consumidores gastaram tanto em bens duráveis (↑2,8%), quanto em serviços (↑1,3%), como sair para comer fora ou ir ao cinema.
A economia norte-americana vive uma situação inesperada para os padrões convencionais de mercado. Mesmo com a inflação em alta, houve uma explosão de consumo no mês passado, com milhares de americanos comendo em restaurantes ou comprando carros novos.
Esses gastos adicionais vão na contramão do que deseja o Banco Central americano, que vem aumentando agressivamente as taxas de juros para manter os preços sob controle. Mas quando a população decide gastar mais, a alta no consumo aumenta a pressão sobre as taxas de inflação.
É uma equação complexa. Uma queda no consumo ajudaria a frear a inflação, mas, por outro lado, aumentaria o risco de uma recessão. Agora, se os gastos continuarem crescendo, o Federal Reserve pode lançar mão de uma medida amarga: continuar aumentando os juros de forma agressiva para controlar os preços.
O que estimula o consumo
As causas da explosão de consumo estão relacionadas com o maior volume de dinheiro em circulação na economia. Houve aumento de salários e os aposentados passaram a ganhar mais este ano. De acordo com dados do governo, os benefícios da Previdência Social aumentaram 8,7% em janeiro.
Outra explicação está no fato de que muitos americanos guardaram dinheiro extra durante os primeiros meses da pandemia de Covid-19 e agora aproveitam para gastar. Como as oportunidades de gastos foram limitadas e o governo pagou um auxílio financeiro para as famílias durante a fase mais grave do isolamento social a poupança interna aumentou. Embora os saldos bancários já tenham diminuído, os americanos ainda estão com muito dinheiro para gastar.
Economistas acreditam que os EUA terão mais dez meses de alta no consumo até esgotar o excesso de poupança. Pessoas que adiaram viagens durante a pandemia, agora recuperam o tempo perdido e gastam o dinheiro acumulado. Para se ter ideia, o fluxo de turistas em Las Vegas aumentou mais de 20% no ano passado.
No entanto, esse consumo não é sustentável, dizem os analistas, e os gastos livres dos consumidores podem estar chegando ao limite. Afinal, nem todas as famílias estão com dinheiro sobrando. Algumas lutam com dificuldade para pagar o essencial à sobrevivência.
A maior rede varejista do país, a Walmart, projeta um crescimento modesto nas vendas este ano, com maior concentração em produtos de necessidades básicas, como mantimentos, e menos em itens supérfluos.