INTERNACIONAL

Avatares, nova arma de propaganda na Venezuela

Governo cria falsos apresentadores de TV para turbinar a imagem do regime

Por: Carlos Taquari
Da redação | 27 de fevereiro de 2023 - 21:55

A inteligência artificial passou a fazer parte do arsenal de propaganda do regime de Nicolás Maduro, na Venezuela. Na tentativa de apresentar um quadro positivo da economia venezuelana, que permanece em crise, o serviço de informação do governo criou dois apresentadores de TV falsos. Noah e Daren, são dois avatares criados com o uso de um programa de inteligência artificial.
A dupla sempre apresenta notícias favoráveis ao regime. Em vídeos divulgados no Youtube, um dos apresentadores “informa” que a economia venezuelana vai bem e “não está tão destruída” como informam os veículos internacionais. Como “prova”, ele cita a ocupação no setor de hotelaria durante o Carnaval. Nesta versão, “Daren”, diz que os hotéis estavam lotados de venezuelanos “ávidos por gastar dinheiro nas praias caribenhas”.

Por sua vez, o outro apresentador, Noah, diz que uma recente competição de beisebol realizada em Caracas, a Serie Del Caribe, foi “um sucesso total, com 10 milhões de dólares em ingressos vendidos e 7 milhões em alimentos comprados pelos torcedores”, números que não podem ser verificados de forma independente.

As “notícias” lidas por Noah e Daren são apresentadas no “House of News em Español”, um telejornal fake exibido pelo Youtube. Os vídeos ganharam milhares de visualizações em redes como o TikTok e também foram inseridos como publicidade paga nas redes.

Noah e Daren, os avatares, foram criados a partir do catálogo de software Synthesia, que oferece mais de 100 rostos, que podem ser utilizados para os mais diversos fins.
A assinatura desse serviço custa apenas alguns dólares por mês. O usuário pode inserir um script escrito para o software criar o vídeo com vozes em mais de 100 idiomas e sincronização labial. A empresa foi fundada por empresários norte-americanos e europeus, em 2017. E o catálogo é composto por atores que fornecem suas imagens para criação dos avatares e recebem um pagamento por isso.

Bolívares venezuelanos: grandes quantidades, mas com valores muito baixos. (Foto: AP)

A realidade da economia venezuelana

O governo de Nicolás Maduro anunciou a queda na inflação como uma boa notícia. Acontece que os números caíram de 686%, em 2021, para 234%, em 2022, o que significa que o país ainda tem um dos maiores índices inflacionários do mundo.

Os números oficiais indicam que a economia venezuelana cresceu 15%, em 2022, graças ao aumento nos preços do petróleo provocado pela guerra na Ucrânia e ao corte no fornecimento pela Rússia. Mas os dados da Comissão Econômica para a América Latinal – Cepal – indicam números mais modestos: 10% de crescimento, graças aos impactos provocados pela guerra. Ainda assim, esse crescimento não é suficiente para tirar o país da crise provocada pela queda de 75% no PIB, nos últimos 8 anos.

Economistas da Universidade Católica de Caracas calculam que o país teria que crescer 346% para recuperar o terreno perdido e levaria 20 anos para recuperar o estágio alcançado na era anterior ao regime do chamado “socialismo bolivariano”, implantado por Hugo Chavez e mantido por Nicolás Maduro.

Ainda segundo os economistas da Universidade Católica, mais de 50% dos venezuelanos vivem abaixo da linha de pobreza, ganhando menos de 8 dólares/mês. (cerca de R$40). Milhares de pessoas sobrevivem graças à ajuda que recebem de seus parentes que fugiram para o exterior. Desde 2015, 7 milhões de venezuelanos abandonaram o país, rumo à Colômbia, Brasil, Equador, Peru e outros países do continente.

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