COMPORTAMENTO

Interesse por vasectomia aumenta nos Estados Unidos

Opção pelo controle da natalidade já vinha sendo observada em outros países

Por: Júlia Castello
Da redação | 14 de janeiro de 2023 - 21:55

No Google Trends, as pesquisas sobre vasectomia sempre foram altas. Mas a procura nos consultórios médicos aumentou mesmo após a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos, que suspendeu uma lei de 1973, que garantia o direito ao aborto. Diante da possibilidade de engravidar uma companheira, que não teria a opção de interromper a gravidez, muitos homens estão preferindo partir para a cirurgia.

Um relatório da empresa de pesquisa Innerbody Research mostrou que a busca por “onde fazer uma vasectomia” aumentou 850%. desde junho de 2022, nos Estados Unidos.  Estima-se que o número de homens sem filhos fazendo vasectomia com menos de 30 anos nos Estados Unidos dobrou no segundo semestre de 2022.

De acordo com um estudo do Departamento de Urologia da Universidade de Stanford, na Califórnia, o interesse pelo procedimento teve um pico semelhante entre norte-americanos entre 18 e 45 anos, registrado entre 2007 e 2009. Diferente de hoje, os pesquisadores perceberam que o “aumento de 34% nas cirurgias de vasectomia foi fortemente correlacionado com o aumento da taxa de desemprego”. Os Estados Unidos passaram por uma grave crise econômica naquele período.

A vasectomia é considerada uma cirurgia de baixo risco, daí ter se tornado uma opção para muitos homens. (Foto: Pexels)

Novas causas

Agora, as condições econômicas não são o único fator no aumento da vasectomia. Uma pesquisa do New York Times mostrou que um terço dos homens e mulheres norte-americanos de 20 a 45 anos citaram a mudança climática como um fator em sua decisão de ter menos filhos. Além das preocupações ligadas ao clima e à superpopulação, há ainda decisões políticas em jogo.

As pesquisas mostraram que a busca por esse tipo de cirurgia aumentou no segundo semestre de 2022, principalmente em estados conservadores do Texas e da Flórida. O pico foi logo após a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos de suspender a decisão que garantia o aborto em nível federal.

A possibilidade de não poder fazer aborto fez com que muitas pessoas, principalmente os homens, pensassem mais em métodos contraceptivos. O professor de cirurgia urológica da Universidade de Utah, Alexander Pastuszak, afirmou que o motivo mais comum para procurar uma vasectomia costumava ser “minha esposa me pediu”.

Mas desde a decisão da Suprema Corte, diz ele em uma entrevista para a BBC, mais homens parecem estar se apropriando de suas opções reprodutivas, já que as opções das mulheres se tornam mais limitadas. “Há uma sensação de que, você sabe, não podemos mais fazer sexo em nossos termos”.

Decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos no dia 24 de junho foi marcada por protestos. (Foto: Flickr)

Desigualdade

Para pesquisadores como a professora de sociologia da “Universidade Gallaudet”, em Washington, nos Estados Unidos Julie Lynn, a atual tendência vai contra o que havia sendo visto até então na responsabilidade pelo controle da natalidade. “Mesmo para casais de longa data, o controle da gravidez caiu desproporcionalmente sobre as mulheres, com a fabricação e venda de anticoncepcionais orais, DIUs e esterilização feminina”, afirmou em um artigo científico.

De acordo com um relatório da ONU, 64% das mulheres em um relacionamento estável usam métodos anticoncepcionais para não engravidar. Estima-se que até 2030, o número de mulheres que utilizam de métodos contraceptivos irá de 758 milhões para 778 milhões.

Mesmo com o crescimento, o acesso às formas de prevenção de gravidez que as mulheres ao redor do mundo possuem é desigual. A ONU mostrou que 24% das mulheres na região da África Subsaariana não possuem acesso à métodos contraceptivos, o que representa o dobro da média mundial em 2015.

Pesquisa do Instituto Ipsos mostrou que a pílula anticoncepcional oral é o método contraceptivo mais utilizado no Brasil. (Foto: Pexels)

Desigualdade no acesso

A vasectomia é um procedimento ainda menos utilizado em países em desenvolvimento, entre 0% e 2% dos casos. Em 2015, o método no Canadá foi de 21,7%, 21% no Reino Unido e 10,8% nos Estados Unidos.

A Austrália é um dos países com maior taxas de vasectomias. Calcula-se que entre 2020 e 2021, “houve um aumento de quase 20% no número de homens sem filhos com menos de 30 anos solicitando vasectomias”.

Pesquisadores da área de saúde perceberam inclusive o aumento da utilização do método em países como a China, onde a esterilização continua sendo um tabu cultural.

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