COMPORTAMENTO

Guia prático de como agir em momentos constrangedores

Ter de conversar com estranhos, responder a elogios públicos, lidar com o luto de amigos ou mesmo rejeitar alguém é um desafio para a maioria

Por: Júlia Castello
Da redação | 14 de novembro de 2022 - 15:02

Pode ser o silêncio incômodo com um vizinho no elevador, ter de dar pêsames a alguém pela morte repentina de um parente, ou terminar um namoro. Com certa frequência, o ser humano em qualquer lugar do planeta precisa encarar situações constrangedoras, para as quais muitos de nós — principalmente os tímidos — percebemos que não estamos preparados.

Bernardo Carducci, professor de psicologia da Indiana University Southeast, autor do livro “The Pocket Guide to Making Successful Small Talk: How to Talk to Anyone Anytime Anywhere About Anything afirma que estas situações podem ser chamadas de “momentos de transição”.

O desconforto acaba gerando uma maior atenção sobre o que se diz, como se age e por isso situações simples podem se tornar embaraçosas e serem lembradas, depois, até como gafe. “Situações que exigem um processo de transição criam sentimentos intensos de autoconsciência. Você está entrando em uma zona onde as regras sociais não são claras”.

A boa notícia para os tímidos, ou para aqueles que não sabem o que fazer em momentos considerados constrangedores, é que especialistas têm mostrado dicas do que fazer.

Conversa com estranhos pode se tornar constrangedora, pois não se sabe quais assuntos abordar (Foto: Pexels)

Conversa fiada

Sim, um dos primeiros assuntos que se pode pensar em conversar com alguém desconhecido é falar sobre o clima. Entretanto, Carducci afirma que conversar sobre assuntos que realmente lhe interessam, extinguirá ou pelos menos diminuirá drasticamente as chances de ter aqueles silêncios constrangedores. Ele pontua que é necessário criar interesse genuíno no outro, para não ficar falando apenas de si e não parecer um narcisista.

Pode não parecer, mas essas situações são extremamente comuns. O pesquisador explica que há sempre uma necessidade implícita de puxar conversa com alguém estranho que por alguns instantes dividem o mesmo espaço físico com você. E não saber quem é a pessoa, o que ela faz, seus interesses, torna a interação ainda mais difícil.

Elogios, por que não?

Todo indivíduo por mais modesto que seja, prefere receber elogios do que críticas. Ainda assim, receber algum elogio, principalmente na frente de outras pessoas pode fazer o “elogiado” ficar sem jeito. O autor explica que o elogio aumenta a pressão para buscar um desempenho melhor da próxima vez, qualquer que seja a atividade.

Além disso, pode desencadear sentimentos de dúvida, principalmente para aqueles que possuem baixa autoestima ou baixa confiança social. Por isso, receber elogios pode acabar sendo incômodo.

Para lidar com este momento, o pesquisador explica que é fundamental não se prender à sua perspectiva subjetiva. Ao invés de se concentrar no que aquilo pode querer dizer, ou na responsabilidade futura daquele elogio, simplesmente aceite a mesura. “Escolha aceitar o que foi dito como a verdade”, afirma. Um simples “obrigado” como resposta é o suficiente.

Meus pêsames

A morte é algo muito difícil de enfrentar para aqueles que estão em luto. Mas também, pode ser um momento angustiante e constrangedor para as pessoas à volta. O que dizer para uma pessoa que acabou de perder o marido? A esposa? O filho? Muitas vezes só a famosa frase: “meus pêsames”, ou “meus sentimentos” pode parecer não suficiente.

Carducci explica que é necessário entender que a pessoa está passando por uma perda e que ela não espera que você diga algo para melhorar tudo. “Você só precisa ser gentil e estar pronto para ouvir”, pontua.

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Independente, mas não sozinho

Sabemos que o ser humano vive em sociedade, necessita um dos outros, mas mesmo assim, pedir ajuda ou até um favor pode se tornar algo difícil de se fazer. Ao pedir isso, se reconhece que não se é competente suficiente para administrar determinada questão sozinho.

A psicóloga, Ann Demarais, e coautora do livro “First Impressions: What You Don’t Know About How Others See You” sugere que em vez de “tentar sustentar uma imagem de competência ou perfeição, concentre-se no que você está tentando realizar”. De acordo com ela, as pessoas que pedem ajuda alcançam mais sucesso ao longo da vida.

Segundo um estudo da Universidade da Califórnia a rejeição amorosa causa dor física (Foto: Pexels)

Pavio curto

Situações de estresse no trabalho não só fazem parte como podem ser comuns em alguns ambientes ou profissões. Entretanto, receber uma resposta atravessada, ou mal educada, pode gerar uma emoção forte de quem o recebe, principalmente se vier de alguém acima de você, como um chefe.

“É como uma criança vendo um pai perder o controle pela primeira vez”, explica a psicoterapeuta Jerilyn Ross, presidente da Associação de Transtornos de Ansiedade da América. Ela afirma que mesmo que exista um “código” de separar vida pessoal e profissional, a realidade não funciona assim.

Os problemas de casa podem afetar o trabalho e vice-versa. Ela afirma que a melhor reação nesses momentos, é não levar para o lado pessoal.  “Pergunte a si mesmo: por que eu sinto que isso é um ataque pessoal? Isso permitirá que você evite uma reação instintiva, o que só piorará as coisas”, conclui.

Rejeição dói, literalmente

O ditado popular “quem não arrisca, não petisca” deixa claro que “arriscar” pode ser a fórmula de ter mais sucessos no que se almeja. Entretanto, por mais que se prepare emocionalmente para o “não”, a rejeição é algo muito difícil, tanto para quem recebe, como para quem rejeita.

Um estudo da Universidade da Califórnia, em Los Angeles mostrou que a rejeição, principalmente a amorosa, provoca uma inesquecível dor física no cérebro. Rejeitar alguém de forma mais cautelosa pode diminuir os impactos da dor emocional e física, já que desdenhar dos sentimentos românticos de alguém produz desconforto para ambos os lados.

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