SAÚDE

Alimentos processados têm os mesmos efeitos de drogas

Estudo mostra que os lanches e industrializados devem ter o consumo limitado

Por: Júlia Castello
Da redação | 11 de novembro de 2022 - 21:55

Alimentos processados, que contêm grandes quantidades de aromatizantes, conservantes e adoçantes não naturais, ​​deveriam ser reclassificados como “drogas”. É o que defende um novo estudo da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, para o qual rosquinhas, cereais açucarados, pizza, refrigerantes, batatas fritas e doces enquadram-se nos critérios que definiram o cigarro como droga na década de 1990, nos Estados Unidos.

A doutora Ashley Gearhardt, professora de psicologia da Universidade e uma das responsáveis pela pesquisa, explica que esses alimentos são viciantes e tão prejudiciais à saúde quanto os cigarros. Os ingredientes, que tornam tais alimentos tão saborosos ao paladar e ricos em calorias, causam vício e alterações de humor no cérebro, aumentando o risco de obesidade e outras doenças crônicas.

Por isso, ela e outros cientistas da pesquisa defendem que a comercialização e propaganda desse tipo de produto seja restringida para crianças, da mesma forma que a publicidade de nicotina não pode ser direcionada ao público infantil.

O efeito dos ingredientes de alimentos e bebidas industrializados no cérebro funcionam como a nicotina, o álcool e a cocaína (Foto: Pexels)

Uso compulsivo

Os cientistas da Universidade de Michigan utilizaram os mesmo padrões de análise utilizados nos Estados Unidos na década de 90, que consideraram o cigarro como “droga” e limitou sua comercialização e propaganda. O responsável por estes critérios na época foi o cirurgião geral Dr. Charles Everett Koop, que publicou um relatório discutindo o vício em nicotina. Koop usou três métricas principais: uso compulsivo, alteração de humor e substância viciante.

Para a pesquisa sobre alimentos processados os pesquisadores utilizaram os mesmos três critérios. O primeiro foi o “uso compulsivo”. De acordo com os cientistas, os consumidores destes produtos sabem dos seus riscos, mas mesmo assim os consomem.

“As pessoas querem reduzir o peso, fazem dietas e a grande maioria delas falha”, disse Gearhardt durante uma entrevista. Segundo ele, a gordura e o açúcar dos alimentos são os responsáveis por desencadear uma resposta viciante no cérebro, além de afetar os receptores de dopamina, que é responsável pelo prazer. 

Isto leva ao segundo critério, que é “alteração de humor”. O efeito dos ingredientes destes alimentos no cérebro funcionam como a nicotina, o álcool ou mesmo a cocaína. Na busca pelo prazer já experimentado, consomem-se lanches e, muitas vezes,  em quantidade exagerada. A pesquisadora descreve esta sensação como um efeito “psicoativo” também provocado por outras drogas.

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Limitações necessárias

Já em relação à “substância viciante”, Ashley Gearhardt explica que ainda é necessário aprofundar os estudos sobre os “junk food”, mas que é possível dizer que o açúcar, como outros ingredientes destes alimentos, podem ser considerados viciantes já que geram um efeito de “reforço”. Ela usa o exemplo de uma pessoa que possui comida saudável na geladeira, mas escolhe sair e comprar sorvete de chocolate, devido ao vício.

A pesquisadora reforça que os danos à saúde não são apenas às pessoas que estão acima do peso. Segundo ela, as pessoas magras correm ainda mais riscos com o consumo desses alimentos. A recomendação dos pesquisadores para limitar as propagandas e o consumo desses produtos às crianças nos EUA não especifica faixa etária. Entretanto, a doutora Gearhardt defende que é importante regulamentar e adotar tais restrições de forma emergencial, para benefício das crianças do presente, e não apenas para as do futuro.

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