China e EUA disputam a liderança na tecnologia que vai ampliar o uso militar dos meios digitais
Ao permitir um considerável aumento na capacidade de transmissão de dados, a nova tecnologia vai influir em áreas tão diferentes como o crescimento econômico e a capacidade militar das grandes potências. Embora outros países da Europa e Ásia estejam tentando entrar nessa corrida, China e Estados Unidos, motivados por uma rivalidade cada vez maior, estão priorizando o desenvolvimento de aplicações da tecnologia 6G para uso militar, inclusive no espaço extraterrestre.
Enquanto o sistema 5G já despertou suspeitas de uso para espionagem ou sabotagem, o 6G abre caminho para um amplo uso em ações militares, principalmente, pela rapidez na transmissão de sinais e dados. Por exemplo, para uso em vigilância relacionada com estratégias de defesa, mas até mesmo para o eventual disparo de mísseis intercontinentais comandados via satélite.
Um amplo estudo sobre o desenvolvimento da tecnologia 6G pelas grandes potências foi publicado pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos – IISS, na sigla em Inglês – instituição britânica, com sede em Londres, considerada uma das mais importantes do mundo na análise dos assuntos militares e estratégias de defesa.
Diante desses novos desafios, segundo os analistas do IISS, o governo norte-americano vem agindo em várias frentes. De um lado, estimula empresas do setor de tecnologia a investir em pesquisas e desenvolvimento de novos softwares e semicondutores capazes de operar com a rapidez e a capacidade exigida pelo 6G. Seja nas telecomunicações ou em setores industriais.
Ao mesmo tempo, estrategistas do Pentágono estudam as diversas possibilidades de uso do potencial 6G em operações militares terrestres e aéreas. Num foco mais amplo, a nova tecnologia abre caminho para a instalação de sistemas de defesa e ataque no espaço extraterrestre, seja com o uso de novas estações espaciais ou o envio de satélites com funções específicas de vigilância e ataque.
Em outra frente, os Estados Unidos estão buscando parcerias com países aliados, especialmente na Europa, com o objetivo de acelerar o desenvolvimento da nova tecnologia, de forma a impedir que a China vença esta corrida.
Por sua vez, a China tem uma estratégia diferente. Todas as iniciativas no setor são coordenadas pelo governo. Numa primeira etapa, sem a participação de países aliados. A destinação de recursos é centralizada nas mãos do governo chinês, de modo que os resultados atendam as expectativas de Beijing. Esta estratégia revelou enormes benefícios para as empresas da China, em outras áreas.
Embora as aplicações comerciais do 6G ainda demorem alguns anos, os estrategistas não perdem tempo quando se trata do uso militar. Neste sentido, tanto a China quanto os Estados Unidos, já desenham cenários do futuro, na tentativa de conquistar a liderança.
O estudo do IISS foi coordenado por John Lee, diretor da consultoria East West Futures e pesquisador do Leiden Asia Center, com a participação de Meia Nouwens, especialista em Política Militar e de Defesa da China e pesquisadora do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos; e de Kai Lin Tay, Analista do Cyber Power and Future Conflict, do IISS.