Pedido cria disputa entre Rússia e EUA pela extradição do russo, que está num presídio federal, em Brasília
Os Estados Unidos pediram ao Brasil a extradição de um suposto espião russo acusado no mês passado pelo Departamento de Justiça de se passar por um estudante estrangeiro, em Washington, enquanto realizava operações de espionagem contra o Ocidente, segundo autoridades americanas e brasileiras. O pedido de extradição representa uma tentativa dos Estados Unidos de assumir a custódia de um agente russo detido no exterior, enquanto Moscou realiza seus próprios esforços para garantir sua libertação.
Sergey Cherkasov está preso, no Brasil, desde Abril de 2022. No início deste ano, ele foi transferido da carceragem da Polícia Federal, em SP, para a Penitenciária Federal, em Brasília. Ele foi condenado, em primeira instância, a 15 anos de prisão, por uso de documento falso, além de ser alvo de um inquérito que apura lavagem de dinheiro, corrupção e espionagem.
A Rússia negou que Cherkasov seja um agente secreto e, em vez disso, apresentou seu próprio pedido de extradição, acusando-o de ser um traficante de heroína – uma alegação que as autoridades americanas e brasileiras consideram um estratagema transparente.
Cherkasov, que é originalmente do enclave russo de Kaliningrado, trabalhou secretamente para o serviço de inteligência militar da Rússia enquanto enganava autoridades ocidentais, universidades e instituições fazendo-as acreditar que ele era um estudante brasileiro chamado Victor Muller Ferreira, de acordo com a versão dos EUA.
Reféns ocidentais
O pedido de extradição dos Estados Unidos ocorre em meio a tensões crescentes sobre a recente prisão pela Rússia de um repórter do Wall Street Journal, Evan Gershkovich, sob acusações de espionagem que as autoridades americanas denunciaram como falsas e que alguns afirmam ser uma tentativa de Moscou de armazenar reféns ocidentais que possam ser trocados por Russos mantidos no exterior.
Os pedidos de extradição dos EUA e da Rússia serão analisados pelo Supremo Tribunal Federal, que tem a competência constitucional para decidir sobre questões de extradição. O STF decidirá para onde Cherkasov será extraditado, mas a palavra final será do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a quem caberá decidir sobre a disputa entre o Kremlin e a Casa Branca.
Usando essa identidade, Cherkasov foi admitido na Escola de Estudos Internacionais Avançados da Universidade Johns Hopkins, em Washington. Depois de se formar em 2020, ele recebeu uma oferta de estágio no Tribunal Penal Internacional de Haia e estava prestes a assumir esse cargo no ano passado quando foi parado em um aeroporto por autoridades holandesas – agindo sob uma denúncia do FBI – e enviado de volta para Brasil.
Sua prisão faz parte de uma repressão às redes de espionagem russas após a invasão da Ucrânia pela Rússia. Países europeus expulsaram pelo menos 400 diplomatas russos após o início da guerra por suspeita de espionagem, um expurgo que continuou com expulsões nas últimas semanas na Suécia e na Alemanha.