Os arquivos rapidamente viralizaram e o vazamento foi qualificado por um agente de inteligência como "um pesadelo para os cinco olhos"
Documentos oficiais, retirados dos arquivos do Pentágono, que contém detalhes dos segredos militares dos Estados Unidos vazaram nas redes sociais. São mais de 100 com arquivos com informações sobre as principais áreas de conflito no mundo, que vão da guerra na Ucrânia, ao Oriente Médio e China.
Um alto funcionário dos EUA chamou o vazamento de “um pesadelo para os Cinco Olhos”, em uma referência aos Estados Unidos, Grã-Bretanha, Austrália, Nova Zelândia e Canadá, as chamadas “nações dos Cinco Olhos”, que compartilham os dados de seus serviços de inteligência militar.
Inicialmente, os documentos começaram a aparecer no Twitter e logo depois viralizaram. Em seguida, altos funcionários do governo Biden afirmaram que estavam investigando um possível vazamento de planos de guerra ucranianos, incluindo uma avaliação da capacidade de defesa aérea da Ucrânia. Um slide, datado de 23 de fevereiro, está rotulado como “Secret/NoForn”, o que significa, “totalmente confidencial e não pode ser compartilhado com países estrangeiros”.
Mick Mulroy, ex-funcionário do alto escalão do Pentágono, disse: “o vazamento dos documentos classificados representa uma violação significativa na segurança” podendo atrapalhar o planejamento militar ucraniano. “Como muitos deles eram fotos de documentos, parece um vazamento deliberado feito por alguém que desejava prejudicar os esforços da Ucrânia, dos EUA e da OTAN”, disse ele. Um analista descreveu o que surgiu até agora como a “ponta do iceberg”.
A preocupação das autoridades americanas é saber o quanto de informação foi vazada. Enquanto os funcionários do Pentágono e das agências de segurança nacional investigavam a origem dos documentos que apareceram no Twitter e no Telegram, outro apareceu no 4chan, um quadro de mensagens anônimo e ilegal. O documento do 4chan é um mapa que pretende mostrar a situação da guerra na cidade de Bakhmut, no leste da Ucrânia.
Mas os documentos vazados parecem ir muito além do material altamente confidencial sobre os planos de guerra da Ucrânia. Analistas de segurança que revisaram os documentos em sites de mídia social dizem também vazaram informações confidenciais sobre a China, o teatro militar Indo-Pacífico, o Oriente Médio e o terrorismo.
O que diz o Pentagono
O Pentágono divulgou um comunicado informando que está investigando o assunto. Mas, em particular, funcionários de várias agências de segurança nacional reconheceram a pressa para encontrar a fonte dos vazamentos e o potencial para o que um funcionário chamou de um gotejamento constante de informações classificadas postadas em sites.
Os documentos sobre as forças armadas da Ucrânia aparecem como fotografias de gráficos de entregas de armas antecipadas, forças de tropas e batalhões e outros planos. Funcionários do Pentágono reconhecem que são documentos legítimos do Departamento de Defesa, mas as cópias parecem ter sido alteradas em certas partes de seu formato original. As versões modificadas, por exemplo, exageram as estimativas americanas de mortos de guerra ucranianos e subestimam as estimativas de soldados russos mortos.
Autoridades ucranianas e blogueiros russos pró-guerra sugeriram que o vazamento fazia parte de um esforço de desinformação do outro lado, programado para influenciar a possível ofensiva da Ucrânia na primavera para recuperar território no leste e no sul do país.
Atrás de portas fechadas, oficiais de segurança nacional tentavam encontrar o culpado. Um funcionário disse que é provável que os documentos não tenham vindo de autoridades ucranianas, porque eles não tiveram acesso aos planos específicos, que levam a marca dos escritórios do Estado-Maior Conjunto do Pentágono. Determinar como os documentos vazaram ajudaria na identificação de quais funcionários tiveram acesso a eles, disse o funcionário.
A primeira parcela de documentos parece ter sido postada no início de março no Discord, uma plataforma de bate-papo de mídia social popular entre os jogadores de videogame, de acordo com Aric Toler, analista do Bellingcat, o site investigativo holandês.