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De um sonho da escola, jovem consegue aprovar uma lei nos EUA

Raya Kenney vai construir um monumento em homenagem às mulheres que trabalharam durante a Segunda Guerra

Por: Júlia Castello
Da redação | 27 de janeiro de 2023 - 21:55

Até então era um dia comum na vida de Raya. Estava trabalhando em uma loja local da sua cidade, Washington, quando recebeu a mensagem de um amigo da família. Depois de vários anos lutando pela causa, finalmente seu projeto de lei foi aprovado. Sim, Raya Kenney, com apenas 21 anos conseguiu criar uma lei nos Estados Unidos.

Tudo começou ainda na quinta série. O trabalho da escola era sugerir a construção de um monumento para alguém que ainda não tinha sido homenageado. Depois de assistir repetidamente o filme “A League of Their Own”, que conta a história da liga feminina de beisebol criada durante a Segunda Guerra Mundial, ela começou a se questionar o que mais as mulheres fizeram neste período.

As mulheres tiveram papel essencial durante a Segunda Guerra Mundial, mas são pouco lembradas. (Foto: National Memorial to the Women Who Worked on the Home Front)

Pouca representatividade

Caminhando por Washington, ela percebeu que quase todos os monumentos e memoriais que contavam a história dos Estados Unidos eram representados por homens. Quando havia figuras femininas elas eram deusas, ninfas, possuindo sempre algo em comum: a beleza.

Foi graças a esse trabalho da escola, que Raya conheceu a história de Rosie the Riveter e de mais de 18 milhões de mulheres civis. Durante a Segunda Guerra Mundial, as mulheres entraram no mercado de trabalho, assumindo funções que até então eram reservadas aos homens: maquinistas, pilotos, engenheiras, açougueiras. Seu trabalho foi fundamental para que os Estados Unidos entrassem na Guerra ao lado de países europeus, contra a Alemanha nazista, e acabarem vencendo. Para além disso, este processo foi essencial para a conquista de direitos das mulheres na sociedade. Onde estavam os filmes, histórias e monumentos sobre estas mulheres?

Nova etapa

O trabalho de Raya na escola levou nota A. Entretanto não era o suficiente para ela. Queria tirar a ideia do papel e realmente construir um monumento que pudesse reconhecer a importância destas mulheres. Foi quando ela conheceu Mae Krier que trabalhava em aviões para a Boeing durante a Segunda Guerra. Krier, de 96 anos, foi responsável por criar uma Medalha de Ouro do Congresso para homenagear suas colegas de trabalho. Conhecer e ter contato com Krier foi muito inspirador para Raya. Era incrível ouvir suas histórias sobre seu trabalho e sua nova independência durante a era da guerra. Mesmo com 75 anos de diferença, elas trabalham com o mesmo objetivo: reconhecer o trabalho destas mulheres.

Perspectiva gráfica do monumento. (Foto: National Memorial to the Women Who Worked on the Home Front)

Raya decidiu criar uma fundação em 2018, o “National Memorial to the Women Who Worked on the Home Front Foundation” para encontrar patrocinadores e apoiadores para seu projeto de lei que autorizasse a criação do monumento. Ela contou com o apoio, por exemplo, da senadora Tammy Duckworth, uma veterana da Guerra do Iraque. Em 2020, ela participou de algumas reuniões no Congresso dos Estados Unidos. Ela conta que se lembra do barulho dos seus sapatos nos corredores de “Cannon Building” e que nunca tinha se sentido tão importante.

Mesmo com a atual aprovação de seu projeto de lei, Raya ainda precisa arrecadar dinheiro para a construção. Atualmente, está trabalhando com a agência governamental, National Park Service, para encontrar um bom local em Washington para o monumento. “Haverá mais comitês para passar antes de podermos finalizar a construção, mas estou muito animada para o que vem a seguir”. Ela acredita que no máximo daqui sete anos o monumento estará pronto.

Raya e Mae Krier tem 75 anos de diferença, mas possuem o mesmo objetivo. (Foto: Redes Sociais)

Acredita-se que o número de mulheres representadas em estátuas nos Estados Unidos, seja de 7%. Em Nova York, existem apenas cinco estátuas de mulheres, como Joana d’Arc e a ex-primeira-dama, Eleanor Roosevelt. No Reino Unido, segundo artigo do New York Times, apenas 3% das estátuas públicas, são de mulheres não pertencentes à realeza.

O Brasil também não fica atrás. De acordo com um levantamento do Departamento de Patrimônio Histórico, São Paulo só possui cinco mulheres reais representadas entre os 367 monumentos da cidade. Para Raya, monumentos vão além de apenas uma homenagem simbólica, mas são um reconhecimento do papel de diversas mulheres com espíritos e mentes brilhantes ao longo da História.

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