Áreas urbanas também interferem na alimentação, no voo e no comportamento das aves
Com a expansão das áreas urbanas, pesquisadores de várias partes do mundo têm estudado os efeitos das cidades no comportamento dos animais que vivem nestas regiões. Pesquisa da Universidade da Costa Rica observou que os barulhos cotidianos das cidades têm interferido na forma como algumas aves cantam.
Os pássaros estudados pelos pesquisadores de Costa Rica são os chamados “carriças”. Como eles suspeitavam, esta espécie de pássaros canta de forma mais aguda em locais em que os ruídos da cidade são mais altos. Além disso, o tamanho do repertório destas aves também diminui de acordo à exposição aos barulhos.
A carriça é uma ave pequena de cor castanha na parte superior, listra superciliar clara e dorso e asas listrados. (Foto: eBird)
“O que está acontecendo aqui é que eles estão perdendo parte do vocabulário, parte dos sons, porque não estão produzindo. E, nessas espécies, os juvenis precisam ouvir os adultos para aprender a cantar”, diz o biológico Sandoval Vargas, um dos responsáveis pela pesquisa.
A alteração de como estes pássaros cantam e a diminuição do repertório afetam a comunicação entre eles. O canto é, por exemplo, a forma que os machos atraem as fêmeas para a reprodução e assim, realizam a perpetuação da espécie.
Como realizado com outros animais para evitar sua extinção, é possível levar algumas destas aves para contato com as carriças que não vivem em áreas urbanas. Entretanto, devido as transformações nos cantos destes animais, até esta solução poderia não ser eficaz.
“Acontece que os indivíduos da pequena população dentro da cidade cantam de forma muito diferente daqueles da grande população… eles não vão reconhecê-los. E, como não conseguem se comunicar, não conseguem se reproduzir [com eles]”, explica Vargas. Com o passar do tempo, isso poderia induzir o início de “processos de especiação”. Ou seja, animais na cidade evoluindo de forma diferente daqueles que vivem em habitats naturais.
A “íbis” é uma ave aquática de dimensões médias e são nativas da África e do Oriente Médio. (Foto: Flickr)
Um outro estudo da Universidade de Melbourne, na Austrália, mostrou que alguns pássaros mudaram sua dieta. Antes se alimentando de pequenos insetos, algumas espécies como os “íbis” passaram a comer restos dos lixos.
O voo também é algo que tem se modificado. Alguns pássaros têm se tornado mais lentos para voar. “Há muita gente se movimentando em ambientes urbanos e os pássaros podem perceber isso como um certo nível de risco ou ameaça… se um humano se aproximar, eles terão uma distância que tolerarão antes de decolar”, explica Amy Hahs, pesquisadora australiana.
Entretanto, alguns pesquisadores como Hans, acreditam que a presença de algumas espécies de animais nos espaços urbanos pode ser benéfica a eles. Seja por ter menos predadores ou mais comida.
“Se formos capazes de reduzir alguns dos impactos urbanos em nossas cidades, criar mais espaços verdes, reduzir as ilhas de calor urbanas por meio da vegetação e outras ações [como] encontrar maneiras de tornar os habitats mais conectados”, diz Hahs, “então mais espécies presentes em nossas cidades encontrarão o ambiente urbano menos desafiador”.
