MEIO AMBIENTE
Sabiá laranjeira entra na temporada de canto em todo o Cone Sul (Foto: Pexels)

Ouça o show do sabiá laranjeira, agora, em todas as janelas do Cone Sul

Temporada de canto do pássaro, um dos mais belos do planeta, é a trilha sonora da primavera na região

Por: Ismael Pfeifer
Da redação | 23 de agosto de 2022 - 14:52
Sabiá laranjeira entra na temporada de canto em todo o Cone Sul (Foto: Pexels)

Pare, abra a janela e ouça. Não vai precisar de muito tempo para conseguir ouvir. Experimente um instante de silêncio, principalmente de manhã ou no final da tarde. E, nesta época do ano, você terá um espetáculo sonoro deslumbrante oferecido pela natureza. Em boa parte da América do Sul, começa agora a temporada de canto do sabiá laranjeira, zorzal colorado ou turdo rojo e você não deve perder.

O canto da espécie é considerado um dos mais bonitos do universo dos pássaros e a sinfonia no Cone Sul da América dura de agosto até dezembro, em algumas regiões, ou até o final do verão, em outras. Uma das curiosidades desse espetáculo gratuito do sabiá, em relação a outros pássaros de cantos sofisticados (melro ou pássaro preto e tordos — também melodiosos), é que ele gosta de viver nas cidades, próximo do ser humano, e se adapta a lugares aparentemente inóspitos para um cantor solitário.

Além disso, é um pássaro territorialista, o que significa dizer que o sabiá que você ouvir no seu quintal será o mesmo durante toda a primavera — ele estará ali com a sua fêmea o tempo todo. E é fácil perceber: o canto do “seu” sabiá é diferente de todos os demais, embora flautado, com melodias parecidas, ele e o que canta no jardim próximo de sua casa terão músicas sempre diferentes, aprendidas no ninho.

Melodia diferente para cada pássaro
Você poderá ouvi-lo na Praça da Sé, em São Paulo, ou perto do Obelisco da 9 de Julio, em Buenos Aires. Basta haver algumas árvores. O sabiá vai aparecer em algum momento do dia, sozinho ou no máximo em casal, para desafiar a poluição sonora com seu cântico flauteado, choroso e único. E, como foi dito, tende a ser sempre o mesmo em cada área por temporada.

Sabiá laranjeira, canto que começa em agosto e vai até o final do verão (Foto: captura de vídeo)

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A sonoridade de cada sabiá é exclusiva, com acordes assemelhados aos da flauta doce, porque cada indivíduo desenvolve nuances de canto particulares, em aprendizado desde o ninho, que nunca se repetem, segundo estudiosos de pássaros.

Na poesia e na música

De tão especial, o canto do sabiá é um dos mais cultuados pela arte brasileira, em poesias e músicas.  Foi de Gonçalves Dias, em 1847, a obra mais conhecida sobre a associação da espécie com o País, na poesia Canção do Exílio. Em Coimbra, Portugal, enquanto estudava Direito, criou os versos populares até hoje. Neles, revela sua nostalgia pelas coisas brasileiras, lamentando a ausência da música do sabiá: “Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá, as aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá”.

Na música, muitas músicas fazem referência a ele, como no clássico Sabiá, de Luiz Gonzaga, ou no sertanejo A Majestade o Sabiá, de Roberta Miranda. Tão marcante na cultura e musicalidade brasileira, o sabiá foi oficializado há 20 anos como a Ave Símbolo Nacional. A escolha, estabelecida por lei, não foi feita por acaso. Biólogos e ornitólogos de todo o país definiram sua preferência pelo pássaro por sua presença em praticamente todas as regiões e sua inserção já consolidada na cultura nacional, em campanha encabeçada pelo engenheiro e ornitólogo Johan Dalgas Frisch.

Zorzal: o apelido de Gardel

Mas também os argentinos percebem o pássaro como especial pela sonoridade da primavera local, frequente do centro do país até o norte, áreas com temperatura amena, no período. E, por isso, “Zorzal” tornou-se o apelido do maior e mais famoso cantor do país, Carlos Gardel.

Confira abaixo três gravações de sabiás laranjeiras e perceba como os cantos contêm diferenças individuais:

Em Tupi, pássaro que reza

A ocorrência do sabiá laranjeira no Cone Sul é volumosa e o ciclo de reprodução obedece o mesmo calendário, da Bolívia, passando pelo Chile, Paraguai, Brasil, Argentina,  e Uruguai. O canto se intensifica justamente a partir do final do inverno, na primavera e entrando pelo verão, entre agosto e janeiro ou fevereiro, período de acasalamento da ave.

O nome científico é Turdus rufiventris, que quer dizer em latim pássaro marrom de barriga avermelhada. O nome “sabiá”, em tupi guarani quer dizer “pássaro que reza muito”, por cantar como se falasse ou rezasse sem parar.

Macho faz canto de acasalamento

As aves costumam medir entre 20 e 25 cm de comprimento e a ave fêmea é um pouco mais encorpada que o macho, pesando cerca de 80 gramas. Sua plumagem é parda, exceto a região do ventre, com tons avermelhados e alaranjados.

Tanto o macho como a fêmea cantam, mas o melhor cantor é macho, que usa a melodia flautada para atrair a fêmea. Seu cardápio alimentar inclui insetos, larvas e minhocas, além de frutas maduras como mamão, laranja e abacate.

É dócil, convive bem em núcleos urbanos e pode viver até mais de 20 anos. O acasalamento pode ocorrer a partir dos 12 meses de vida. A fêmea choca até três vezes por ano, de 3 a 4 ovos por vez. A incubação deles dura cerca de 13 dias. Tanto o macho quanto a fêmea se revezam na construção do ninho até a alimentação dos filhotes. É pássaro abundante em todo o Cone Sul, sem mínimo risco de extinção, o que garante a perpetuação de seu espetáculo musical por muitas gerações de sul-americanos.

Sabiá laranjeira entra na temporada de canto em todo o Cone Sul (Foto: Pexels)

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