ENTRETENIMENTO

Zé Carioca, o personagem encomendado por Roosevelt, chega aos 80

Em meio à guerra ideológica, o malandro foi criado para exportar os valores americanos para o Brasil

Por: Marcelo Bonfá
Da redação | 20 de agosto de 2022 - 22:00

Quem curte histórias em quadrinhos ou é do universo geek tem bons motivos para comemorar. Zé Carioca está completando 80 anos de vida. O que quase ninguém sabe é que o personagem malandro, brincalhão e preguiçoso foi encomendado pelo governo do presidente americano Franklin Roosevelt a Walt Disney durante a 2ª Guerra Mundial.  Através do Escritório para Assuntos Interamericanos (OCIAA, na sigla em inglês), as histórias do personagem nos quadrinhos e no cinema tinham uma missão muito bem definida. Elas deveriam exportar os valores americanos e promover uma aproximação cultural dos Estados Unidos com os países da América Latina, principalmente com o Brasil. A ideia de Roosevelt e sua equipe era impedir a expansão do comunismo e do nazifascismo.

Foto: Disney/Culturama/Divulgação

Em 24 de agosto de 1942, dois dias após o Brasil declarar guerra à Alemanha e Itália, “Alô, Amigos” teve sua estreia mundial no Rio de Janeiro. Com quatro histórias que somam 42 minutos de duração, o média-metragem foi um sucesso de bilheteria e crítica, ainda que reforce estereótipos negativos do brasileiro como não gostar de trabalhar ou enganar os outros. No filme, Zé Carioca é mostrado como um sujeito bem-humorado, que  não tinha emprego fixo ou estabilidade no trabalho. Na fita, ele também aparece com o seu estilo boêmio, refletido em seu traje (com paletó, gravata borboleta, chapéu e guarda-chuva usado como bengala) e empurra cachaça goela abaixo do Pato Donald para fazer o amigo rebolar e entrar no clima do samba. Na trilha sonora desta produção cinematográfica, Disney colocou dois clássicos da MPB: “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, e “Tico-Tico no Fubá”, de Zequinha de Abreu.

Outra característica pouco conhecida é que o Zé Carioca foi o primeiro personagem da cultura pop brasileira a ter histórias ambientadas numa cidade real com avenidas, praias, prédios e até uma favela como a fictícia Vila Xurupita. O que muitos de seus admiradores nunca perceberam é que o personagem criado para divertir era, na verdade, uma peça de propaganda política do governo norte-americana.

Nos anos 70, depois de uma grande transformação e com roteiro feito por autores nacionais, o papagaio verde com o bico amarelo aparece mais brasileiro ao comer feijoada, frequentar campos de futebol e desfilar em escolas de samba de sua comunidade no Carnaval. Sua esperteza e vagabundagem também foram acentuadas neste período, mas nunca chegando à desonestidade.

Os roteiros das aventuras do Zé Carioca sempre tiveram que passar pelos critérios da matriz da Disney, nos EUA. Hoje, o comportamento do personagem está mais light, se moldou aos novos tempos e é influenciado pelo politicamente correto. A empresa, que também criou o Mickey Mouse, diz que as histórias do “malandro” vão valorizar o otimismo, a solidariedade, a nostalgia de um Brasil menos polarizado e de um brasileiro que não desiste nunca. Para quem está com saudades do Zé Carioca, a Disney está lançando um livro, com 144 páginas, com as melhores histórias do personagem.

Veja o vídeo de comemoração dos 80 anos do Zé Carioca preparado pela Disney

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