O processo, que segundo a Rússia é democrático, pretende legitimar a anexação dos territórios para endurecer na guerra
Cidadãos ucranianos têm relatado a presença de soldados russos armados carregando urnas de votação em cidades ocupadas. Eles batem de porta em porta para coletar votos para os autoproclamados “referendos” sobre a adesão dessas regiões à Rússia.
De acordo com a agência de notícias russa, Tass, esse “modelo” de votação com urnas na porta do eleitor — como tradicionalmente fazem algumas conhecidas marcas globais de cosmético — está sendo usado para “segurança” da população. Mas já virou motivo de chacota contra Putin, interna e externamente, por reeditar formatos eleitorais de “cabresto” de outros tempos. O referendo vai até dia 27 de setembro, próxima terça-feira, dia em que só se poderá votar nos locais das urnas.
Uma mulher, que vive na cidade Melitopol, afirmou à BBC que dois “colaboradores” locais chegaram com dois soldados russos ao apartamento de seus pais com uma cédula para que eles assinassem. Era apenas uma cédula por família e não por pessoa. Ela conta que o pai disse não à anexação da região à Rússia e a mãe ficou preocupada que agora poderiam ser perseguidos pelos russos.
Analistas políticos independentes destacam a contradição das falas de Moscou de que a eleição é um processo democrático, já que a condução da votação tem sido realizada na presença de homens armados.
O objetivo dos “referendos” promovidos pela Rússia é obter aval popular formal, ainda que questionado pelo G7 e a maior parte dos países do mundo, para anexar as quatro áreas ocupadas a seu território. Com isso, Putin pretende reagir com maior força bélica a eventuais ataques com apoio do Ocidente a essas mesmas regiões, sob a alegação de que parte do território russo estaria sendo atacado e não mais terras ucranianas.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, descreveu os referendos como “uma farsa”, dizendo que são um “falso pretexto” para tentar anexar partes da Ucrânia à força, violando o direito internacional.
Já o secretário de Relações Exteriores britânico, James Cleverly, disse que o Reino Unido tem evidências de que as autoridades russas já estabeleceram até os “índices de aprovação para esses referendos falsos”. Segundo o secretário, a Rússia planeja formalizar a anexação das quatro regiões até o final do mês. As localidades são: Luhansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia.
De acordo com a agência russa Tass as perguntas das cédulas não são iguais para todas as regiões em que estão acontecendo os “referendos”. Nas cidades de Luhansk e Donetsk, as cédulas são impressas apenas em russo e questionam se as pessoas “apoiam a adesão à Rússia”. Já em Zaporizhzhia e Kherson, a votação é em ucraniano e russo e a pergunta é se “querem a separação da região da Ucrânia, a criação de um país independente e a subsequente adesão à Rússia como sujeito federal”.