Ex-vice-presidente dos EUA diz que problema do clima é "real e urgente" e que investimentos devem se destinar prioritariamente a países pobres
As piores inundações de todos os tempos no Paquistão, calor recorde na China, incêndios florestais nunca antes vistos na Europa. Junte tudo e 2022 tornou-se um ano em que as mudanças climáticas assumiram proporções bíblicas, de acordo com o ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, um dos pioneiros em alertar para os perigos das mudanças climáticas.
“Assistir todas as noites no noticiário da TV é como fazer um passeio pela natureza através do Livro do Apocalipse. Isso demandas respostas significativas e rápidas dos governantes”, disse Gore em entrevista para o lançamento do mais recente Relatório de Tendências de Sustentabilidade, de seu organismo. “E esses eventos não são fenômenos aleatórios do clima, eles estão piorando a cada ano na última década.”
Ainda assim, Gore, que diz defender uma “mensagem de duas partes” sobre as mudanças climáticas — primeiro que o perigo é real e extremo e, segundo, que existem soluções disponíveis para resolver o problema — fez questão de enfatizar que há razões para ser otimista. Especificamente, ele apontou para a aceleração das políticas de apoio às energias renováveis.
Para Gore, a maior economia do mundo “se libertou” de se subordinar às empresas de combustíveis fósseis tradicionalmente utilizam “suas redes políticas e financeiras para influenciar governos”, disse ele.
Na Europa, a situação é mais complexa, segundo o relatório de tendências da Generation. Existem “graves riscos para a transição para energia limpa” porque as decisões de curto prazo tomadas pelos governos para garantir o fornecimento de combustíveis fósseis para aquecer as casas neste inverno podem ter efeitos adversos de longo prazo nas emissões.
“É óbvio que a escassez de energia de curto prazo causada pela invasão maligna de Putin na Ucrânia deve ser enfrentada para que passemos o inverno e evitemos sofrimento intolerável”, disse Gore, advertindo que, mesmo nesse caso específico, as alternativas devem ser bem analisadas para minimizar as consequências para o clima no futuro.
“A transição energética não terá sucesso sem políticas de apoio e muitos fundos de investidores. E, nessa frente, há muito trabalho a ser feito. O investimento anual em energia limpa precisará dobrar até 2025 para US$ 2 trilhões para limitar o aumento das temperaturas globais a 1,5 graus centígrados”, avalia o relatório da Generation, citando pesquisa da BloombergNEF.
Com exceção da China, o relatório da Generation informa que a maior parte dos dólares destinados a investimentos verdes continua se destinando para economias desenvolvidas. Para conter o aquecimento global, esse dinheiro deveria ser redirecionado para os países emergentes, já que as atuais políticas climáticas sugerem que as emissões tendem a crescer mais, no futuro, no mundo “em desenvolvimento”. O relatório conclui que, se esse redirecionamento não ocorrer, as emissões totais continuarão a aumentar.