Kiev expõe marcas que continuam fazendo negócios na Rússia e ajudam a bancar o orçamento militar
A Agência Nacional da Ucrânia para Prevenção da Corrupção (NACP) divulgou uma nova lista de empresas que continuam mantendo negócios com a Rússia, apesar das sanções aplicadas pela União Europeia e Estados Unidos. Da lista de 26 empresas dos setores da indústria, comércio e bancos, 17 estão baseadas em países da UE.
Entre outras, fazem parte da relação a rede varejista da França, Auchon, acusada de vender produtos alimentícios em territórios da Ucrânia ocupados pela Rússia. Segundo a NACP, os produtos são distribuídos nessas cidades, como se fosse ajuda alimentícia para as populações locais, embora cheguem também às tropas do Exército russo.
O Raiffeisen Bank International (RBI), que tem sede em Viena, é considerado como a maior instituição financeira estrangeira que opera em território russo. A NACP revelou que esse banco movimenta um capital de 27 bilhões de euros, na Rússia, e que boa parte de suas transações são feitas com oligarcas ligados ao Kremlin. Um porta-voz do RBI informou que a instituição está “em processo de retirada do mercado russo.
De acordo com o entendimento do governo de Kiev, as empresas que continuam operando na Rússia contribuem com a guerra por meio de impostos pagos ao governo central, que sustentam o orçamento dos militares. A Ucrânia atribui responsabilidade às empresas e seus principais executivos, que são acusados de fornecer bens e serviços que ajudam a perpetuar a invasão e financiam o “terrorismo”.
Atualmente 102 pessoas e 26 empresas estão na lista. Uma delas é o OTP Bank, o maior banco comercial da Hungria, que atende mais de 2,4 milhões de clientes na Rússia. O OTP é acusado de reconhecer os territórios ocupados de Donetsk e Luhansk como extensões da Rússia e de fornecer condições de crédito preferenciais às forças armadas russas.
A diretoria do banco nega as acusações. “O Grupo OTP opera em conformidade com todas as sanções internacionais e leis locais em todos os seus mercados, incluindo a Rússia”, diz uma nota à imprensa.
Em retaliação, o governo húngaro usou o poder de veto que dispõe para bloquear uma nova parcela de € 500 milhões em assistência militar da União Europeia para a Ucrânia até que o banco seja retirado da lista. A polêmica levou o chefe de política externa da UE, Josep Borrell, a mediar um acordo com as autoridades ucranianas para apaziguar os ânimos. “Temos que fazer tudo o que pudermos para que o próximo pacote de apoio militar à Ucrânia seja aprovado. Se um estado membro tiver uma dificuldade, vamos discutir sobre isso”, disse Borrell.
O fato é que a lista, elaborada pela Agência Nacional de Prevenção da Corrupção (NACP) da Ucrânia, vem sendo questionada pelo seu caráter arbitrário e, principalmente, pelo estrago que causa à reputação das empresas alvejadas pela campanha difamatória.
De acordo com um estudo da Universidade de Yale, 229 empresas, incluindo marcas conhecidas como a italiana Benetton e a francesa Lacoste, mantêm negócios na Rússia, enquanto outras 175 corporações, como a alemã Bayer e o holandês ING Bank, estão ganhando tempo, ou seja, pausaram novos projetos de investimento, mas ainda realizam transações no dia-a-dia, desafiando todas as sanções internacionais. Esse número revela que a lista da Ucrânia é mais estreita e seletiva contendo apenas 26 empresas.