O estudo rastreou cerca de 200 mil geleiras em diversos pontos do planeta e revela os efeitos das mudanças climáticas
Cientistas monitoraram mais de 200 mil geleiras e descobriram que elas perderam mais de 2.7 bilhões de toneladas de gelo em 10 anos devido às mudanças climáticas. Isso equivale a 2% de seu volume em uma década. Pode parecer pouco, mas isso interfere diretamente na vida de milhões de pessoas, nas mais diferentes regiões do planeta. As geleiras estão distribuídas por todas as latitudes, não apenas nos polos. Centenas são rotineiramente medidas ao nível do solo, a observação do espaço é a única forma de avaliar como eles estão respondendo aos efeitos climáticas.
Em muitas partes do globo, as geleiras também funcionam como reservatórios críticos de água. Acredita-se que mais de 20% da população mundial dependa de alguma forma das águas derretidas do verão que fluem das geleiras – para beber, para a agricultura e para impulsionar usinas hidrelétricas.
A NASA e a ESA (Agência Espacial Europeia) possuem sondas com radar, que enviam pulsos de microondas capazes de rastrear as variações de altura ao longo da superfície do planeta – e em particular as mudanças na elevação dos campos de gelo. Esse tipo de instrumento funciona muito bem no monitoramento de ondulações no interior da Antártica e da Groenlândia.
Os avanços no processamento de dados permitiram aos cientistas aumentar efetivamente a resolução e a robustez da visão, de modo que agora pode acompanhar os desenvolvimentos mesmo em locais difíceis de ver. O estudo, publicado na revista Geophysical Research Letters, aplicou essa abordagem a todo o arquivo de dados das espaçonaves para produzir uma avaliação global das geleiras.
As águas derretidas das geleiras garantem que o sul da Ásia tenha um suprimento consistente de água, mesmo na seca. O mesmo acontece em regiões montanhosas dos Estados Unidos e Europa.
Quase 90% da perda de gelo observada entre 2010 e 2020 foi devido ao derretimento em um planeta cada vez mais quente. As geleiras do Alasca sofreram as maiores perdas, mais de 80 bilhões de toneladas por ano, o que equivale a cerca de 5% do volume total de gelo na região durante o período de estudo de 10 anos. Este é um efeito do ar mais quente.
Entre os lugares onde as geleiras parecem estar se movendo mais rapidamente incluem-se o Ártico – em Svalbard, o arquipélago norueguês – e nos setores russos dos mares de Barents e Kara. O aumento da descarga de gelo no oceano é responsável por mais de 50% da perda de massa nessas áreas.
“Esta é uma consequência do que é chamado de ‘Atlantificação’ do Ártico”, explicou Noel Gourmelen, da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido. “Normalmente, as águas superficiais do Oceano Ártico são muito frias, mas cada vez mais em alguns desses lugares as águas superficiais estão se tornando mais salgadas e mais quentes à medida que as correntes sobem do Atlântico, ou seja, as geleiras estão despejando mais gelo no oceano”. Isso, aumentará o aumento do nível do mar, ameaçando milhões de moradores de áreas costeiras.
Um dos satélites utilizados no mapeamento é o Cryosat, uma antiga nave espacial da ESA, que vem trabalhando muito além de sua vida útil prevista. Os cientistas esperam obter mais alguns anos de operação, mas há um reconhecimento de que ele pode falhar a qualquer momento. A União Europeia está panejando mandar mais uma série de satélites de longo prazo inspirada no Cryosat.