Os ataques noturnos marcam uma nova investida russa para destruir infraestrutura e gerar transtornos à população ucraniana
KIEV, Ucrânia – A Rússia atacou a capital Kiev e outras cidades ucranianas nas primeiras horas desta segunda-feira (19/19) com uma horda de drones autodetonantes — mais uma vez bombardeando os sistemas de infraestrutura, mas com uma sinistra mudança tática que parecia destinada a privar os ucranianos não apenas de calor, eletricidade e água, mas também do sono.
Sirenes de ataques aéreos soaram em Kiev, às 2h00 da madrugada, o som estridente amplificado pelo vazio das ruas da capital durante o toque de recolher noturno.
Mas os ataques de hoje marcam a primeira vez que a Rússia enviou uma frota tão grande de drones durante a noite – potencialmente um reconhecimento dos comandantes russos de que seus barulhentos e lentos drones iranianos são muito mais fáceis de localizar e abater durante o dia.
Os apoiadores ocidentais da Ucrânia correram para reforçar suas defesas aéreas em resposta aos repetidos ataques de mísseis e drones russos. Mas enquanto os militares ucranianos alegaram ter destruído a maioria dos veículos aéreos não tripulados ou UAVs, as autoridades disseram que vários atingiram seus alvos, causando sérios danos aos sistemas de energia do país.
“A noite toda, UAVs inimigos tentaram invadir instalações de energia em todo o país”, disse a Ukrenergo, operadora do sistema de transmissão de eletricidade da Ucrânia, em comunicado. “Graças ao trabalho profissional das Forças de Defesa Aérea, o inimigo não atingiu totalmente seu objetivo, mas, infelizmente, há vários acertos nas instalações de infraestrutura.”
“Atualmente, a situação mais difícil se desenvolveu nas regiões central, leste e Dnipro”, continuou o comunicado da empresa. “Cronogramas de desligamentos de emergência foram introduzidos nas regiões de Sumy, Kharkiv, Poltava, Dnipropetrovsk, Zaporizhzhia, Kirovohrad, Zhytomyr, Chernihiv, Cherkasy, Kyiv e na cidade de Kyiv. Instalações de infraestrutura crítica são priorizadas. A restauração do fornecimento de energia para consumidores domésticos pode demorar muito tempo.”
A escalada do ataque noturno confirmou que o presidente russo, Vladimir Putin, não tem intenção de reduzir seu bombardeio aos sistemas de infraestrutura da Ucrânia, o que, segundo especialistas internacionais, levou o país à beira de uma crise humanitária e pode desencadear uma segunda onda de milhões de refugiados ucranianos para países vizinhos caso a vida no inverno se torne insuportável.
Os ataques desta segunda-feira ocorreram horas antes de Putin chegar a Minsk para conversas com seu colega bielorrusso, Alexander Lukashenko. A visita está sendo observada de perto em busca de indícios de um possível ataque iminente a ser lançado a partir do território bielorrusso, assim como a Rússia iniciou seu ataque a Kiev de lá no inverno passado.
As autoridades ucranianas alertaram que tal ataque poderia ocorrer no final de janeiro, embora as autoridades de defesa dos EUA tenham dito que não veem nenhum sinal de tal ataque em um futuro próximo.
A Rússia já havia atacado instalações ucranianas com drones, mais recentemente na cidade portuária de Odessa, no sul. Mas o ataque desta segunda-feira foi o maior até agora contra Kiev, disse o vice-prefeito Andriy Kryshchenko. Em ataques anteriores, os drones foram acompanhados por mísseis.
O secretário do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia, Oleksiy Danilov, disse à mídia local que a inteligência ucraniana indica que as forças russas estão chegando ao fim de seus estoques de mísseis e têm capacidade para “dois-três, no máximo quatro” grandes ataques envolvendo dezenas de mísseis, como o ataque de sexta-feira em que mais de 70 foram disparados.
No entanto, a Rússia ainda possui um número suficiente de foguetes S-300 – um sistema mais antigo e menos preciso – disse Danilov.