Analistas afirmam que a proposta russa é uma estratégia para demonstrar ao público interno que a Ucrânia não quer a paz
Analistas consideram que o anúncio de cessar-fogo de 36 horas feito pelo presidente russo, Vladimir Putin, não passa de uma estratégia para ganhar tempo e criar a narrativa de que a Ucrânia não respeita a religião ortodoxa e não deseja a paz.
Putin ordenou que seu ministro da Defesa imponha um cessar-fogo de 36 horas na linha de frente ucraniana em virtude da celebração do natal ortodoxo que é comemorado no dia 7 de janeiro e não no dia 25 de dezembro como é feito nos países ocidentais.
A decisão atendeu a um pedido do patriarca Kirill, o chefe da Igreja Ortodoxa Russa, que enfatizou a necessidade de uma trégua para que permitir que os fiéis participassem dos cultos de natal ortodoxo nas áreas de conflito, o que deveria ser respeitado na véspera, na sexta-feira, e no dia de natal, no sábado.
Dessa forma, Putin pediu à Ucrânia que aderisse ao armistício, mas Kiev prontamente rejeitou a proposta. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou que a trégua seria uma tentativa de impedir o avanço das tropas ucranianas no leste do país e trazer mais homens e equipamentos para a região.
Por outro lado, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, disse que Moscou sempre ignorou as propostas de paz do presidente Zelensky. E apontou como exemplo o bombardeio russo de Kherson no 24 de dezembro e os ataques na véspera de ano novo como evidência da falta de respeito de Moscou em relação aos feriados religiosos.
O presidente dos EUA, Joe Biden, declarou que Putin estava simplesmente tentando encontrar um pouco de oxigênio com uma proposta de trégua.
O fato é que poucas horas depois do anúncio de cessar-fogo, Rússia e Ucrânia atacaram posições uma da outra no leste ucraniano nesta sexta-feira sem nenhum sinal de que observariam um armistício de 36 horas.
Na manhã desta sexta-feira, véspera de Natal, mísseis russos atingiram Kramatorsk, uma cidade ucraniana perto da linha de frente na região industrial de Donetsk que a Rússia reivindica como seu território.
“Kramatorsk está sob fogo. Fiquem em abrigos”, afirmou o prefeito da cidade, Oleksandr Honcharenko.
A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022, iniciando uma guerra que matou dezenas de milhares de pessoas, deslocou milhões e reduziu cidades a escombros.
A Ucrânia expulsou a Rússia de parte de seu território, mas as batalhas estão ocorrendo nas cidades do leste e do sul, e a Rússia desencadeou bombardeios de ataques aéreos contra a infraestrutura civil, principalmente usinas de energia elétrica para deixar a população à mercê do inverno rigoroso.