Conferência será realizada sob a presidência dos Emirados Unidos, que têm interesses contrários ao meio ambiente
A pouco mais de seis meses para a realização da COP28, em Dubai, nos Emirados Árabes, delegações de vários países apontam divergências e contradições nos debates políticos para a organização da cúpula anual do clima da ONU. Algumas decisões em torno da conferência já causaram polêmica, desde a escolha dos Emirados Árabes Unidos para presidir a cúpula até questões de direitos humanos e comentários sobre a inviabilidade de se acabar com os combustíveis fósseis.
A escolha do emir Al Jaber para presidir a COP28 é um dos pontos complexos. Jaber é CEO da Abu Dhabi National Oil Company, o maior produtor de petróleo dos Emirados Árabes e o 12º maior do mundo. Ambientalistas definiram a escolha como um “flagrante conflito de interesses”.
“Você não convidaria traficantes de armas para liderar negociações de paz. Então, por que deixar os executivos do petróleo liderarem as negociações sobre o clima?”, afirma Alice Harrison, líder da campanha de combustíveis fósseis da Global Witness.
Em resposta à reação negativa à indicação de seu nome, Al Jaber disse que está tratando a COP28 com “um forte senso de responsabilidade e o mais alto nível de ambição possível”.
Declarações contraditórias
Declarações feitas por integrantes do governo dos Emirados Árabes Unidos reforçaram o clima de animosidade nos bastidores da COP28. A ministra de Mudanças Climáticas e Meio Ambiente do país, Mariam Almheiri, afirmou que o mundo não estava pronto para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis. Almheiri entende que isso prejudicaria os países que dependem dos combustíveis fósseis para obter receita ou não poderiam substituí-los facilmente por fontes renováveis. Em vez disso, a ministra acha mais viável investir na tecnologia de captura e armazenamento de carbono enquanto os países aumentam a capacidade de geração de energia renovável.
Nas negociações que serão travadas em novembro na COP28, os Emirados Árabes já deixaram claro que defenderão a proposta para que os países eliminem gradualmente as emissões de combustíveis fósseis, mas não a produção de gás, petróleo e carvão porque isso fere frontalmente os interesses econômicos dos países produtores.
Outra questão polêmica envolve o convite feito pelos donos da casa ao presidente da Síria, Bashar al-Assad, para participar da cúpula do clima. Se Assad aceitar o convite, será a primeira vez que ele participaria de um evento internacional organizado pela ONU desde o início da guerra civil na Síria em 2011, que já matou mais de 300 mil pessoas e deslocou metade da população do país.
A presença de Assad na COP28 também pode gerar um grande mal estar com países que impuseram sanções à Síria por causa do flagrante desrespeito aos direitos humanos.