SAÚDE

Perda de libido em mulheres

Acúmulo de funções domésticas é uma das causas da perda de desejo

Por: Mario Augusto
Da redação | 17 de agosto de 2022 - 21:56

Denise tem 42 anos e está casada há 15. Depois de perceber que o seu desejo sexual pelo marido havia despencado, ela procurou tratamento médico especializado. O “problema” começou após o nascimento dos filhos gêmeos. Atividades preliminares, que antes da chegada dos bebês eram apreciadas pelo casal, cessaram completamente. Nenhum dos dois sentia satisfação após os raros encontros ritualizados, que mais beiravam a obrigação.

Com o tempo, Denise* perdeu completamente o desejo. As insinuações do marido e até pedidos mais explícitos eram ignoradas. A reação de James foi  deixar de ajudar nos cuidados com as crianças e nas tarefas de casa.

Angustiado com a situação, o casal recorreu à terapia depois que o médico da família identificou que Denise apresentava uma desconexão sexual como um potente fator de estresse.

A situação de James e Denise é mais comum do que se imagina. De acordo com pesquisadores, na verdade, é um padrão comum nos relacionamentos entre mulheres e homens. O fato é: o desejo sexual da mulher desaparece ou se torna “muito baixo”, a ponto de ser tratado como uma disfunção.

Perda de libido

Perda da libido nem sempre se deve a problemas físicos. Foto: Pexels.

Causas da perda de libido

A perda da libido feminina nem sempre está associada somente a problemas físicos. Fatores psicológicos e comportamentais podem influenciar nesse quadro.

É o que mostra a pesquisa sobre a teoria da heteronormatividade que explica o baixo desejo sexual de mulheres, publicada na revista científica Nature Public Health Emergency Collection, que também publicou o estudo de caso de Denise e James.

De acordo com Lori Brotto, psicóloga do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da University of British Columbia, Canadá, e uma das autoras do artigo, essa diminuição de desejo sexual das mulheres em relacionamentos heterossexuais pode estar ligada a quarto fatores determinantes: as divisões desiguais do trabalho doméstico; a tendência de as mulheres assumirem um papel de mãe-cuidadora em relação aos seus parceiros masculinos; ênfase das mulheres sobre o seu próprio prazer sexual; e normas de gênero que influenciam qual parceiro inicia o sexo.

O estudo mostra que as normas de gênero que cercam a iniciação sexual contribuem para o baixo desejo sexual das mulheres. “Como um dos pilares da heteronormatividade, as mulheres são ensinadas a serem responsivas à iniciação sexual dos homens, mas não a serem agentes sobre o início do sexo, para evitar serem rotuladas de “frígidas”, diz o estudo.

As pesquisadoras advertem que a relação sexual não pode ser vista como a única versão de “sexo real”, mas os casais podem investir na busca por intimidade além do sexo. Intimidade baseada em afeto para garantir que as necessidades do outro, especialmente das mulheres, sejam atendidas. “O homem pode ajudar a sua parceira a sentir desejo, em vez de partir direto para a ação ”, afirma Brotto.

*Nome fictício 

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