Cresce a especulação de uma possível renúncia do papa Francisco em meio a pressões internas da ala mais conservadora da Igreja Católica. Ao se dirigir aos fiéis, durante o Ângelus de domingo, na praça São Pedro, o papa falou sobre deixar os cargos no momento certo, o que ele tratou como sendo “a virtude de se afastar no momento certo” e “aprender a se despedir”.

“É fácil se apegar a papéis e cargos, à necessidade de ser estimado, reconhecido e recompensado”, afirmou Francisco. “É bom para nós também cultivarmos, como João [Batista], a virtude de nos colocarmos de lado no momento certo, testemunhando que o ponto de referência da vida é Jesus”, recomendou o pontífice.

Mas a frase mais contundente da homilia veio logo a seguir. Francisco afirmou que é preciso exercitar o desapego das coisas materiais. “Afastar-se, aprender a despedir-se: completei esta missão, fiz este encontro, vou afastar-me e dar lugar ao Senhor. Aprender a se afastar, não receber algo para nós mesmos em recompensa”, concluiu.

Papa Francisco durante o Ângelus dominical, na praça São Pedro. (Captura/vídeo/Vatican News)

Anteriormente, Francisco já havia declarado que deixaria o cargo se sua saúde piorasse, mas desmentiu as especulações de uma suposta renúncia motivada por aparente conflito dentro da Igreja. Analistas que acompanham a cobertura do Vaticano sugerem que a pressão contra o pontífice tem aumentado por parte de facções conservadoras da Igreja. Para a ala radical o fato de Francisco ser mais liberal do que o seu antecessor é um problema.

Por que se fala em renúncia?

No ano passado era improvável que Francisco renunciasse ao pontificado, enquanto o papa emérito Bento XVI estivesse vivo, porque isso criaria uma situação totalmente inusitada para a Igreja Católica, de ter dois papas aposentados e um novo pontífice em exercício nas funções.

A situação mudou com o falecimento de Bento XVI no último dia de 2022. E a pergunta para a qual todos querem a resposta é: O Papa vai mesmo renunciar?

Em dois mil anos de história da Igreja Católica, apenas cinco papas renunciaram ao cargo. Bento XVI foi o mais recente. E 598 anos depois de Gregório XII renunciar ao papado para acabar com o cisma do Ocidente, em 2013 foi a vez de Bento XVI afastar-se do comando da Igreja. Ele renunciou alegando que sua saúde estava debilitada e, ele, velho demais para continuar.

Como a aposentadoria de Bento XVI criou um novo precedente no Pontificado moderno, os rumores de uma possível desistência do papa Francisco passaram a ganhar força no Vaticano. No início de janeiro, o portal Planeta Cultura trouxe uma reportagem destacando a existência de uma suposta conspiração, orquestrada por cardeais conservadores, para sobrecarregar o santo padre ao ponto de não restar outra saída senão a renúncia.

A hipótese de um afastamento também foi reforçada por uma revelação feita em dezembro do ano passado. Francisco revelou que já havia assinado uma carta de renúncia anos atrás para entrar em vigor imediatamente caso ele venha a ficar “deficiente” por problemas de saúde ou “acidente”.