Cerca de um quarto dos entrevistados em pesquisa recente revelaram a perda do desejo
Alguns alegam que lidar com as crianças gera um enorme cansaço. Outros culpam as horas passadas na internet e, principalmente, o longo tempo vendo pornografia. Também há quem culpe o próprio casamento, ou seja, o fato de viver sob o mesmo teto. As desculpas são inúmeras para explicar a perda do interesse pelo sexo entre os chamados millennials, os jovens nascidos entre o inicio da década de 80 e 1995. Pesquisa do Instituto Kinsey, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, revela que 25,8% dos casais millennials relatam a perda no desejo sexual. O número passa a taxa da Geração Z, aquela nascida entre 1995 e 2010.
Em entrevista para a revista estadunidense, The Atlantic, a antropóloga Helen Fisher, que coordena a pesquisa anual Singles in America, diz que os dados das pesquisas apontam para a redução da atividade sexual dos mais jovens, não somente dentro dos relacionamentos. Ao realizar o estudo, os pesquisadores recolheram inúmeros depoimentos de casais que vivem em relacionamentos onde há zero ou baixo relacionamento sexual: “Nos primeiros anos do nosso casamento tínhamos uma ótima vida sexual….mas agora que ele está envelhecendo (o rapaz tem apenas 30 anos) ele parece que não tem mais interesse em sexo”, disse uma entrevistada. Outra se queixou assim: “Não consigo entender porque ele não deseja ter relações comigo”.
A baixa frequência do sexo entre os mais jovens é menor até do que entre as gerações mais velhas. Segundo Fisher, apenas uma conversa com o público de mais idade já permite notar a mudança. “Eu sou uma baby Boomer (1940 e 1960) e, aparentemente, na minha época nós estávamos fazendo muito mais sexo do que eles fazem hoje!”, afirmou ela.
O mundo moderno e tecnológico é o responsável por essa queda do desejo sexual dos mais jovens. Consequentemente, os relacionamentos também vêm enfrentando problemas. O estresse é a causa principal para a redução da atividade sexual. Segundo Justin Lehmiller, pesquisador do Instituto Kinsey, essa geração, especialmente, tem níveis mais altos de cortisol, o que atrapalha na vida sexual.
“O estresse é um dos maiores assassinos da libido. E os millennials são um grupo particularmente estressado de várias maneiras, especialmente em comparação com a geração X (1960 e 1980)” – Justin Lehmiller.
Filhos: A maioria dessas pessoas está na fase de ser pai ou mãe de primeira viagem. De acordo com uma pesquisa com 2.005 usuários das redes sociais Gransnet e Mumset, 61% das pessoas na faixa dos 30 anos afirmaram que faziam menos sexo do que gostariam. 31% disseram que perderam a libido depois de ter filhos.
Atraso financeiro: Segundo o relatório Millennial Homeownership do Urban Institute 2021, a taxa de jovens com a casa própria está caindo. Isso ocorre porque esse grupo não consegue economizar o suficiente para realizar o sonho de comprar a moradia. Os salários baixos são os responsáveis. Eles também enfrentam uma alta dos preços dos imóveis, automóveis e outros produtos.
Transtornos mentais: Dados de 2022, levantados pela consultoria global Deloitte, apontaram que 38% dos millennials sofrem com algum transtorno psicológico. A ansiedade, na maior parte das vezes atrelada ao trabalho, é o principal relato dos entrevistados.
Mudanças tecnológicas: Essa geração acompanhou o surgimento da internet e o rápido avanço dela com sites, aplicativos e funções nos aparelhos. Com isso, também houve um aumento da preocupação com a imagem nas redes sociais e a comparação com pessoas da pornografia. O medo e receio de ser real com o parceiro (a) está gerando frustrações.
Segundo a terapeuta sexual da Califórnia, Christene Lozano, em entrevista para a BBC News, quando o casal chega nesse ponto, é necessário procurar ajuda de um profissional especializado. Ela explica que a desmotivação e a falta de libido de um pode gerar um sentimento de rejeição no parceiro (a), piorando a situação e afetando outras áreas do relacionamento.