Pessoas LGBTQIA+ temem isolamento e falta de apoio na idade avançada
Quem te traria uma canja de galinha se você estivesse idoso e doente? Para a maioria das pessoas de uma certa idade, a resposta é mais ou menos fácil — um cônjuge ou um filho adulto resolveria o problema. Para as pessoas LGBTQIA+, no entanto, essa não é uma pergunta simples de responder.
A possibilidade de ficar solteiro e não ter filhos é muito maior para os gays, o que pode levar à falta de amparo na velhice (Foto: Pexels)
“Alguns anos atrás, eu teria dito que meu então marido seria meu cuidador primário se eu ficasse doente ou inválido. Eu teria feito o mesmo por ele. Agora tenho 65 anos e me divorciei. E essa tornou-se uma de minhas principais preocupações”, conta ela.
Trata-se de preocupação igualmente séria para muitas pessoas LGBTQ com as quais Imani atende, sejam solteiras ou tenham parceiros. “Veja o caso de um amigo meu, que tem 60 anos e vive sozinho. Ele cuidou de seu pai moribundo no ano passado (como eu tinha feito quatro anos antes com o meu pais). Durante a longa doença de seu pai, tratamos de duas questões que nos aterrorizam (e eu não uso essa palavra de forma banal): “Quem vai cuidar de nós quando precisamos de ajuda?” “Para onde iremos quando não possamos mais cuidar de nós mesmos?”
Envelhecer é um desafio igualmente difícil para pessoas heterossexuais e gays. Mas, nos Estados Unidos, organizações de apoio ao público de idosos gays elencam características e dificuldades que o público LGBTQ enfrenta a mais do que os héteros nessa fase da vida:
“Muitos de nós postergam ou evitam cuidados médicos necessários porque enfrentamos discriminação ou maus tratos por parte dos prestadores de cuidados de saúde. Se você é gay e trans ou uma pessoa negra, essas disparidades são muito claras e os relatos são inúmeros”, diz Imani Wood.
Há cerca de 3 milhões de pessoas LGBTQ com 50 anos ou mais nos Estados Unidos.
“O desafio de envelhecer é especialmente cruel para boa parte das pessoas gays”, avalia Michael Adams, executivo-chefe da SAGE, associação de atenção a idosos gays nos Estados Unidos. “A dura realidade é que as pessoas LGBTQ mais velhas sofrem por viver normalmente de forma mais isolada e ter menos conexões sociais do que os héteros. E faltam as conexões pessoais que muitas vezes vêm com estruturas familiares tradicionais”, explica Adams.
Isso decorre do fato de os gays muitas vezes serem rejeitados pela família, amigos e comunidade em seus anos mais jovens por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero. “Para começar, não podíamos casar legalmente até 2015, quando a Suprema Corte decidiu em favor da igualdade matrimonial.
Mas mesmo pessoas gays casadas podem acabar sozinhas depois de um divórcio ou morte, o que muitas vezes traz desafios diferentes daqueles enfrentados por pessoas heterossexuais que enfrentam os mesmos eventos que mudam a vida”, explicou Michael Adams.
Diante da ausência de políticas voltadas para o problema e da falta de perspectivas de que elas sejam adotadas no futuro, Adams faz recomendações para que as pessoas LGBTQ ampliem suas conexões sociais e acabem sendo parte de uma “tribo”, que amplie a proteção entre seus membros.
“É importante desenvolver relações de amizade intergeracionais, mesmo se você tiver de 30 a 40 anos. Anciãos podem transmitir sabedoria e experiência para jovens LGBTQ e esses podem oferecer ajuda em troca”, conclui.
E essa não é uma receita apenas para o público homossexual. Um estudo da Universidade de Harvard sobre Desenvolvimento Adulto, que acompanha homens e mulheres independentemente de sua orientação sexual definiu que as relações pessoais são o ingrediente crítico no bem-estar, particularmente à medida que as pessoas envelhecem.
Simplificando, mais quanto mais conectados estamos, mais provável é que consigamos ser saudáveis e felizes. Parafraseando Imani Woody: comece a construir já essas pontes.