Organização denuncia contabilidade enganosa e desonesta na ajuda aos pobres
Bloomberg
Os países ricos estão ficando muito aquém de seus compromissos financeiros com os países pobres. E ainda estão usando contabilidade “enganosa” e “desonesta” para inflar o quanto estão fornecendo, segundo denuncia da Oxfam International, uma das mais tradicionais organizações de ajuda, que atua em mais de 90 países na busca de soluções para problemas como a pobreza, desigualdade e injustiças.
A recente denúncia da Oxfam está relacionada com a ajuda prometida pelos países ricos – os que mais provocam danos ao meio ambiente – aos países pobres, que mais sofrem as consequências. E o alerta foi feito a apenas algumas semanas do início das negociações sobre o assunto, na COP27, a conferência da ONU sobre o Clima, a ser realizada em Sharm-El-Sheik, no Egito, de 7 a 18 de novembro
As nações ricas forneceram menos de US$ 25 bilhões em ajuda, em 2020, em comparação com os quase US$ 70 bilhões que anunciaram, de acordo com a Oxfam. Grande parte do dinheiro foi entregue por meio de empréstimos, o que força os países a se endividarem ainda mais. Enquanto isso, os fundos fornecidos, geralmente, têm menos foco nas questões do meio ambiente do que o declarado.
“As contribuições dos países ricos não apenas continuam a ficar abaixo do objetivo prometido, mas também são muito enganosas”, disse Nafkote Dabi, líder de política climática da Oxfam, em comunicado. “Em vez de apoiar os países que enfrentam secas, ciclones e enchentes, os países ricos estão prejudicando a capacidade deles de lidar com o próximo choque e aprofundando sua pobreza”, afirmam.
Com os países ricos longe de cumprirem com a promessa de fornecerem US$ 100 bilhões em financiamento climático por ano – uma meta que deveria ser alcançada em 2020 -, as revelações do relatório têm o potencial de corroer ainda mais a confiança das nações pobres.
O relatório da Oxfam destaca o caso do Senegal, que é um dos países mais vulneráveis às mudanças climáticas, mas recebeu 85% de seu financiamento na forma de empréstimos. No geral, o total desses empréstimos aos países menos desenvolvidos subiu para US$ 31 bilhões, em 2020, segundo a organização sem fins lucrativos.
O financiamento para ajudar os estados insulares e os países menos desenvolvidos deve ser uma das principais questões da cúpula climática da COP27, no Egito. Nas negociações sobre o clima, os países devem discutir como aumentar as metas financeiras de bilhões de dólares para os trilhões que os países em desenvolvimento dizem ser necessários para realmente lidar com os impactos das mudanças climáticas.
Mia Mottley, a primeira-ministra de Barbados, tem liderado pedidos de perdão da dívida para ajudar os países mais pobres a lidar com os efeitos das mudanças climáticas. E, de acordo com Dabi, o “sistema financeiro climático baseado, principalmente, em empréstimos está apenas piorando o problema”.