MEIO AMBIENTE

Os oceanos, novos aliados contra o aquecimento global

Lançamento de ferro no mar pode elevar a absorção de dióxido de carbono da atmosfera, o que ajuda a conter as mudanças climáticas

Por: Júlia Castello
Da redação | 26 de agosto de 2022 - 22:00

Os oceanos podem se tornar um dos principais aliados na luta contra o efeito estufa, a concentração de dióxido de carbono na atmosfera, que constitui uma das principais causas do aquecimento global. O caminho para isso está no aumento dos níveis de fitoplâncton nos mares. Fitoplâncton é o conjunto de organismos microscópicos que flutuam na água e utilizam a luz solar para realizar a fotossíntese, assim como as plantas terrestres. Ao realizarem esse processo, os microrganismos absorvem carbono. E, para aumentar a presença desses organismos, a solução pode estar no lançamento de ferro nas águas dos mares. Pode ser, por exemplo, areia do deserto, que contem ferro.

Os oceanos são responsáveis por mais de 50% do oxigênio existente no planeta, o que garante toda espécie de vida.

Entre as estratégias desenvolvidas por estudiosos para enfrentar o problema do aquecimento global está a utilização do próprio oceano na absorção do carbono, como sugere um relatório publicado pela Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina, dos Estados Unidos.

Oceanos contra o aquecimento global

No fundo dos oceanos uma arma contra o aquecimento global. Foto: Pexels.

Um dos estudiosos responsáveis por esse relatório é o radioquímico marinho, Ken Buesseler, da Woods Hole Oceanographic Institution. O fitoplâncton utiliza o dióxido de carbono e a luz solar para realizar a fotossíntese, assim como as plantas terrestres. Ele pesquisa há 20 anos a fórmula que ajudaria a ampliar a absorção do carbono pelo fitoplâncton.

A importância dos experimentos

Uma das principais linhas da pesquisa de Buesseler mostrou que a introdução de ferro nos oceanos poderia “alterar o fluxo de carbono para o oceano profundo” tendo um efeito direto e significativo na absorção de carbono. Apesar destes estudos terem começado há mais de vinte anos, Buesseler afirma que até recentemente não havia muito interesse e também controvérsia nos meios acadêmicos sobre os efeitos da liberação de carbono na atmosfera.

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Uma experiência na Antártica

Em 2009, por exemplo, um navio de pesquisa alemão partiu para o Oceano Antártico carregando 6 toneladas de ferro, que seria ser jogado no mar e desencadear uma grande proliferação de fitoplâncton que sugaria dióxido de carbono (CO2) do ar. Mas os ambientalistas se opuseram, criticando o teste como uma forma imprudente de geoengenharia. O governo alemão suspendeu brevemente o trabalho, mas em seguida acabou liberando novamente. Foi a última tentativa de experimento de fertilização com ferro em mais de uma década.

Mas isso deve mudar em breve, depois que um painel de biólogos marinhos e outros especialistas informou no ano passado que esses experimentos eram uma prioridade e pediram que os Estados Unidos gastassem até US$ 290 milhões em iniciativas ainda maiores, que espalhariam 100 toneladas de ferro pelo oceano.

Neste momento, devido aos sinais crescentes de mudanças no clima, existe um maior empenho no desenvolvimento destas pesquisas. Buesseler aponta que seria necessário realizar experimentos e que estes não causariam danos no equilíbrio dos oceanos. As pesquisas práticas seriam inclusive de extrema necessidade para avaliar se a introdução do ferro nos oceanos poderia se tornar prejudicial a longo prazo.

Ajuda pode vir do deserto

Uma pesquisa publicada na revista Nature mostrou que a quantidade de ferro disponível no deserto do Saara, que alcança o Oceano Atlântico pelos litorais do Marrocos e Mauritânia, é bastante alta. Este estoque de ferro, que naturalmente chega ao mar por meio da poeira levada pelo vento, não apenas não teve impactos negativos no oceano, como ajudou a fertilizar o fitoplâncton naquela área.

Segundo os pesquisadores, a introdução do ferro na água do mar já traria efeitos visíveis nos fitoplânctons nas primeiras 24 horas.

Atualmente, existem três fontes principais de ferro no oceano Atlântico Norte: poeira do deserto do Saara, infiltração de fontes hidrotermais no fundo do mar e sedimentos costeiros. Os cientistas conseguiram constatar que 71% a 87% do ferro na água do mar procedem do deserto do Saara. Essa poeira é frequentemente transportada pelo oceano durante as tempestades.

Mesmo com o desenvolvimento de estratégias de remoção de carbono na atmosfera, como essa, Buesseler destacou que é necessário e urgente lidar com a utilização desenfreada do uso de combustíveis fósseis.

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