CULTURA

Não o provoquem! Ele é o verdadeiro L’Agent Provocateur! 

Com raciocínio agudo e a partir dos ensinamentos dos grandes pensadores, ele tenta provocar uma reflexão sobre os tempos atuais

Por: Carlos Taquari
Da redação | 9 de setembro de 2022 - 17:36

Ao contrário dos agentes provocadores que agitaram a Europa entre o final do século 19 e início do século 20, ele não dispara bombas incendiárias ou tiros. Seus petardos são de conteúdo intelectual e dirigidos contra aqueles que, a seu ver, cultivam a indigência mental e ignoram os ensinamentos dos grandes pensadores. Ensinamentos que ele procurou acumular ao longo de décadas: tem graduação, mestrado e doutorado em Filosofia, na USP; mestrado na Universidade de Paris-8; pós-doutorado na Universidade de Tel-Aviv; e lecionou como professor convidado nas universidades de Marburg, na Alemanha, e Sevilha, na Espanha. Junte-se a essa trajetória os estudos em Medicina, na Universidade Federal da Bahia e na Unifesp, incluindo uma formação em Psicanálise. Para ele, é impossível entender o mundo de hoje sem algum conhecimento das obras de grandes pensadores, entre eles de Nietzsche e Shopenhauer. Com seus artigos, na Folha de S.Paulo e observações ferinas que dispara no programa “Linhas Cruzadas”, da TV Cultura, ele conquistou uma legião de seguidores. E também de inimigos, para os quais ele daria um único conselho: leiam e tentem escapar do poço da ignorância. A seguir, uma conversa rápida com o filósofo e professor Luiz Felipe Pondé.

Não provoquem o Ponde

Pondé, no jornal e na TV, disparos contra a esquerda e a direita.

O senhor considera que, em certos setores, o ambiente acadêmico no Brasil hoje beira a indigência mental? Pode citar alguns exemplos? 

Pondé – O ambiente acadêmico é miserável. Uma competição por migalhas, já que a vida acadêmica no Brasil ainda não tem espaço para grandes valores.

Principalmente no ambiente de humanas. Estuda-se pouco. Muita gente foi para esta área porque é fácil de entrar. O tempo passa e você acaba virando um personagem de Kafka, que não carrega processos de um lado para outro, mas fica preenchendo formulários da CAPES e do MEC, alimentando os burocratas e suas burocracias.

A inveja é o afeto principal. Puxa-se tapetes. Concursos arranjados. Enfim, distópico.

Alguma preocupação com o aluno?

Pondé – O que mais se vê são reuniões de colegiados em que a palavra aluno não existe. Só como cota para orientações que sustentam contratos dos professores. Cálculos políticos para aumento de poder nos órgãos colegiados e nas agências reguladoras de produção. Aliás, produção essa que, na maioria das vezes, ninguém lê, mas pontua no Lattes. Um “gaming” para simular produção intelectual e científica.

Nos meios políticos, além do populismo e da exploração religiosa, quais são outros exemplos de atraso?  

Pondé – A corrupção, que leva à estética brega de acúmulo de bens, ausência de opção entre um retardador com armas e um sindicalista datado. Prostituição explícita em Brasília. Não existe uma política de Estado para a educação, saúde, infraestrutura e para enfrentar o semianalfabetismo.

Acredita que parte da imprensa, além de refletir esse atraso, se deixa levar por isso?

Pondé– A imprensa é atrasada na mesma medida em que sua infantaria é petista. Toda imprensa que se crê salvadora do mundo é atrasada. As faculdades de jornalismo têm professores que deveriam ser apenas sindicalistas ou pregadores de evangelhos. A imprensa é levada pelo atraso porque o coração bate mais rápido quando pensa que o Lula vai ganhar a eleição.

As atuais forças políticas, à direita e à esquerda, estão preparadas para colocar o país no rumo do desenvolvimento econômico e social? Ou estamos condenados ao subdesenvolvimento?  

Pondé – Esquerda e direita, paulatinamente, se transformam num vocabulário de loucas da casa, se tentarmos utilizá-las como modo de entendimento na terceira década do século 21. Entre círculos acadêmicos americanos a histeria marca o escopo à esquerda. E grupos de tarados marcam o escopo à direita popular. Na América Latina a esquerda respira artificialmente entre rebeldes adolescentes como Boric, no Chile, o populismo pseudo irado do Lula, o peronismo caquético argentino e ditadores cubanos, nicaraguenses e venezuelanos. A direita, com sua estupidez provinciana atávica, se especializa em fake news e bozos. Se esquerda e direita podem condenar o Brasil ao atraso? A prova é que depois de uma pandemia, a eleição de 22 repete a miséria de 18, em termos de opções. A corrupção se tornou uma ciência política no Brasil. Corrompeu todos os níveis institucionais. O Brasil experimenta o niilismo político que Dostoiévski identificou na Rússia do século 19.

O que acha do politicamente correto?   

Pondé – Politicamente correto é um desenvolvimento tardio da tese de John Locke, do século 17, em que se tutela as ideias e palavras para se fazer uma pessoa melhor. Na prática, se transformou numa forma de empobrecimento cognitivo. Uma forma ideal para produzir gente mau caráter e dominada pelo medo o tempo todo de ser perseguida. Um gosto que domina a academia, as revistas científicas e as redações. Um modo de vida intelectual brocha.

Como o senhor vê a atitude dos jovens de hoje? 

Pondé  – Os jovens têm sido torturados pelas modas de comportamento. O resultado é que ficam cada vez mais medicados, sonhando em virar Gretas em série.

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