CULTURA

Senhores passageiros, chamada para o embarque!

O passo a passo pra você se tornar um WWoofer e viajar pelo mundo

Por: Carlos Taquari
Da redação | 4 de agosto de 2022 - 21:56

O sonho de conhecer muitos países e ter contato com outras culturas fascina a maioria das pessoas. E isso, em geral, esbarra na falta de dinheiro. A iniciativa do WWOOF não nasceu para proporcionar viagens gratuitas, mas para incentivar a produção de orgânicos. Acontece que, ao permitir a troca de algumas horas de trabalho, em geral bem leve, por hospedagem e alimentação sem custos, acabou se tornando uma oportunidade para jovens do mundo inteiro. Sim, especialmente para os jovens, porque não se deve esperar por conforto e mordomias.

Vamos agora a um passo a passo para se tornar um WWoofer:

– Primeiro é preciso escolher um País do qual  você tenha um domínio básico da língua

– Entre no site do WWOOF e crie um perfil explicando porque quer fazer parte do programa

– Coloque uma boa foto. Isso ajuda na aproximação com os hosts

– Inicie o contato com os anfitriões, mas antes descubra qual trabalho que eles realizam lá

– Escrever para os locais de interesse, deixando claro quando poderia ir

– Quando fechar com algum anfitrião, checar muito bem o endereço e como chegar

Acertada a data da viagem é hora de pensar no dinheiro da passagem e de algum extra. Há locais onde o acesso não é tão fácil após o desembarque no aeroporto ou estação ferroviária. Alguns proprietários chegam a ser tão gentis que buscam o visitante na cidade mais próxima. Torça por isso.

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O TRABALHO NAS VINHAS EM CASTILLON LA BATAILLE

Agora, vamos voltar ao nosso Wwoofing pelo Sudoeste da França. Mais exatamente na região de Castillon La Bataille, que também fica a meio caminho entre Bordeaux e Saint Emilion.

Christian Jacquement, proprietário do Château  Franc La Fleur, optou pela agricultura biodinâmica, sem a utilização de pesticidas. Ele obedece os ciclos da Lua e trata suas vinhas com um carinho especial. Nada do maquinário utilizado pelos grandes produtores. Sua produção utiliza pouquíssimo sulfito, utilizado para conservar o vinho e evitar a oxidação, mas que não faz muito bem à saúde.

Produção sem agrotóxicos

São vinhos ricos em polifenóis, compostos presentes na casca na uva, que têm propriedades anti-inflamatórias e ajudam a combater as doenças cardiovasculares. É dali que sai o Château Franc La Fleur, appellation Castillon Côtes de Bordeaux, utilizando três tipos de uvas típicas da região: Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc.

O trabalho lá, entre o final da Primavera e início do Verão, consiste na “elevação”, a sustentação das ramas das vinhas, presas nos arames, para que apontem para cima. A colheita é feita em Setembro.

chamada para o embarque

Jacquement das aulas de matemática para o trabalho nas vinhas.

Christian é um ex-professor de Matemática, que resolveu trocar as salas de aula pelos vinhedos. Com um humor francês – leia-se não muito dado a simpatias – mas gentil o suficiente. Não esconde sua paixão pelas vinhas. Nos últimos tempos, também se dedica à plantação de Goji, uma minúscula fruta originária do Himalaia, à qual se atribuem propriedades quase mágicas para a saúde. É utilizada, principalmente, na produção de geleias, sucos e chás.

Numa estadia com Christian é quase certo poder contar com a presença de Philippe Froger, artista plástico, morador da região, que encanta os visitantes com uma conversa recheada de humor e cultura. Froger passou a juventude e parte da vida adulta em Paris, mas decidiu trocar a cidade pelo campo. “Paris não é nem de longe a mesma cidade que conheci”, ele diz, inconformado com a explosão da metrópole, onde não são apenas os preços dos imóveis que expulsam alguns moradores. Por exemplo, sentar à mesa de um café parisiense, segundo ele, já foi muito mais prazeroso do que nos tempos atuais.

ASSOMBRAÇÕES, TRAGÉDIAS E FORTUNAS DE MILHÕES DE EUROS

Uma visita ao Sudoeste exige uma passada pelo Châteaux La Rivière. Construído no século XVI, o castelo foi residência de inúmeros nobres franceses e passou por muitas reformas ao longo dos séculos. Em 2013, foi palco de uma terrível tragédia. O então proprietário, James Grégoire, estava vendendo o Châteaux para um bilionário chinês, transação na casa das centenas de milhões de euros. Ao sobrevoarem a propriedade, o helicóptero que os transportava caiu, matando Grégoire, o empresário chinês e seu filho, de apenas 12 anos. A viúva do empresário não estava no voo e hoje administra a propriedade.

A tragédia, real, deu origem à lenda de que assombrações seriam vistas em algumas noites nos amplos salões. Não é preciso acreditar na lenda, mas vale a visita a um local que tem uma belíssima vista para os vinhedos e onde é possível provar saborosos tintos e brancos.

Se você está decidido a se tornar um WWoofer, lembre-se de que a França é apenas um dos 130 países que você pode visitar. Acima de tudo, é uma questão de planejamento.

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