PERFIL

Ela enfrentou duras batalhas pela vida. E saiu vitoriosa!

Após passar por dois tumores malignos, ao longo de dez anos, Linda superou os desafios para alcançar seus sonhos

Por: Júlia Castello
Da redação | 25 de novembro de 2022 - 21:55

Linda estava fazendo as malas para uma viagem tão esperada. O destino era a França, em companhia do namorado, Caio. Ao fazer as malas, uma semana antes, ela esbarrou no seio direito e sentiu uma bolinha. Dava para sentir algo ali bem protuberante. Viajou e depois que voltou decidiu ir ao médico. Sem plano de saúde, foi no atendimento público. Não conhecia ninguém com algo parecido. Então, pesquisou e pediu para ver um mastologista.

Fez os exames solicitados e o médico disse que ela não precisava se preocupar. Devia ser algo causado pelo anticoncepcional, que ela tomava, com os seus 24 anos. A sogra, entretanto, insistiu para que ela procurasse um médico particular de confiança. Linda não queria ir. Bobagem! Gastar dinheiro e não era pouco dinheiro. Mas foi e conheceu o doutor Jorge. Ele pediu para ela fazer novos exames.

O resultado da biópsia sairia numa sexta-feira, de 2012. O doutor Jorge ligaria para dar o resultado. Ele avisou que não tinha saído e pediu que ela fosse a seu consultório, na segunda-feira. Uma sensação estranha se apossou dela durante todo o fim de semana. Será que ele sabia de algo e não queria falar por telefone? Será que era algo ruim? Na segunda-feira, acompanhada da mãe, ela esperou o namorado Caio chegar do trabalho para que pudessem receber o resultado juntos. Já na sala de espera o medo de entrar na consulta e sair diferente do que entrou era constante.

Linda e se seus pais durante uma comemoração de fim de ano. (Foto: Twitter)

Doutor Jorge, com muito jeito, disse que era um tumor. Um tumor maligno. Palavras estas que ninguém quer ouvir. Mesmo assim elas veem certeiras e  atingem de uma forma tão profunda, que o momento parecia ter se congelado. Era como se Linda estivesse vendo tudo de longe, fora do seu próprio corpo. Para outros, parece mais um pesadelo, em que a qualquer minuto se vai acordar. Sua mãe começou a ter calafrios e Caio, por outro lado, estava sério prestando atenção em tudo o que o médico dizia. A secretária do doutor pegou água com açúcar, para acalmar a todos.

Dali, no mesmo prédio, eles foram encaminhados para o Doutor Augusto que atendia pelo Hospital Universitário. A realidade do diagnóstico e do tratamento se tornava cada vez mais claro: teria que fazer cirurgia e também passar por quimioterapia. Seu tumor tinha por volta de sete centímetros. Naquele momento, devido aos riscos da quimioterapia falaram em congelar os óvulos, caso ela quisesse ser mãe um dia. Aos 24 anos, ainda não tinha pensado nisso. A fila pelo SUS era longa e os médicos recomendaram a urgência do tratamento. Fez a cirurgia e  tirou o tumor.

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A volta

Ao final da última de dezenas de sessões de quimioterapia começou a fazer a hormonoterapia. Uma pílula por dia. Com os anos passando e a vida voltando um pouco mais ao normal, ela se casou com Caio. Aos 29 anos, um pouco antes de completar os tão esperados cinco anos após a descoberta do câncer, ela encontrou um novo cisto no mesmo seio. Dessa vez, com um centímetro e meio. Com a reincidência do câncer, não apenas tirou toda a mama, como Doutor Augusto recomendou que ela tirasse a outra por prevenção.

Já sabendo que queria ser mãe um dia e passando por uma segunda quimioterapia, decidiu congelar óvulos. Mas não gostou nem um pouco da experiência que teve na clínica. Tomou várias injeções e quando ia retirar o médico dizia que precisava de mais, mesmo tendo confirmado que já havia folículos. Com a necessidade de começar a fazer a quimioterapia o quanto antes, desistiu. Talvez ser mãe biológica, não era para ela. A mulher, as vezes, sente o dever de gerar uma vida. Mas seja por não querer, não poder ou mesmo por circunstâncias da vida, nem todas as mulheres têm filhos. Ainda poderia adotar, construir o sonho de ser mãe.

Algum tempo depois, nove anos após o tratamento de hormonoterapia, o médico recomendou que aquele poderia ser um bom momento de parar. Com o apoio dele e de toda a equipe, pensou em tentar ter um filho. Sempre batia aquela dúvida: será que posso ter? Usou vários métodos, como teste de ovulação, tabelinha e na primeira tentativa: teste positivo.

Linda com seu filho Martín, que completou cinco anos. Ela enfrentou e venceu as batalhas. (Foto Twitter)

O enfrentamento

Martin nasceu no fim da pandemia. Foi vacinado contra a covid-19 ainda na barriga de Linda. Estava alcançando uma nova linha de chegada. Por quase 10 anos ela só ficou observando tudo pela janela. Dessa vez, queria fazer uma grande festa. Comemorar sua vitória pela vida, pela cura. Cura era uma palavra estranha, pois mesmo após este período não dá nunca para se ter certeza que não terá um novo câncer. Entretanto, o símbolo do que ela representa, a comemoração da cura após os cinco anos, significava esperança para ela e para os mais de 28 mil seguidores no projeto “Uma linda janela” que ela construiu para falar sobre o câncer e dar consultorias para empresas e serviços de saúde.

Chegando perto da data, ficou mais introspectiva, quieta. Entendeu que a vitória não era para fora, mas para dentro. Comemorar, agradecer por tudo que tinha passado com as pessoas próximas. Completando cinco anos de casada e cinco anos da recuperação do segundo tumor, Caio lhe deu um anel, uma meia aliança. Foram na mesma igreja em que se casaram e ali o monge consagrou o anel. Depois de almoçar em seu restante favorito, perto da Igreja, eles foram para casa. Com o filho Martin, Caio, sua mãe e pessoas próximas que acompanharam toda sua jornada, ela assoprou as velas de um bolo. O tão temido câncer, não tinha sido um fim, mas apenas uma etapa desafiadora, claro, de um novo começo.

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