A maioria dos americanos ama e usa carros, mas a Califórnia adotou uma estratégia radical para mudar a mentalidade local sobre o assunto. Na onda de medidas aprovadas para reduzir emissões de carbono o mais rápido possível, o estado acabou de aprovar um projeto de lei inédito para recompensar em US$ 1.000  (cerca de R$5.200,00) as pessoas que não possuem veículos, para que continuem abrindo mão de comprar um carro. Agora, só falta a assinatura do governador democrata Gavin Newsom.

O projeto de lei oferece um crédito fiscal para os contribuintes individuais que ganham até US$ 40.000 e os casais que ganham até US$ 60.000 que vivem sem carro. E, como o crédito fiscal é reembolsável, os residentes do Golden State podem reivindicar o valor total, mesmo que não tenham US$ 1.000 em obrigações fiscais.

A medida, que ocorre pouco mais de uma semana depois que a Califórnia decidiu proibir a venda de novos veículos movidos a gasolina, a partir de 2030, representa a mais recente tentativa do estado de liderar os Estados Unidos em uma política climática ambiciosa. Em uma maratona de sessões legislativas, o estado também aprovou uma lei exigindo uma zona de isolamento de 1 quilômetro entre os poços de petróleo e os prédios públicos como escolas ou creches, um plano para manter a usina nuclear de Diablo Canyon aberta e, finalmente, estabeleceu metas de gerar 90% da eletricidade a partir de fontes limpas até 2035, além de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 85% até 2045.

“Nunca houve um ano como este no clima”, disse David Weiskopf, consultor sênior de políticas da NextGen Policy, em comunicado. “Eu não poderia estar mais orgulhoso do que nosso estado realizou.”

É muito difícil que os Estados Unidos atinjam suas metas climáticas sem uma diminuição significativa na quantidade e na quilometragem dos carros pessoais. Graças a uma combinação de planejamento urbano centrado no carro e expansão suburbana, os americanos dirigem anualmente um total de quase 5 trilhões de quilômetros.

De acordo com uma pesquisa de energia da organização RMI, os Estados Unidos devem reduzir os quilômetros percorridos por veículos em 20% até 2030 para manter o aquecimento abaixo de 1,5 graus Celsius, mesmo num cenário de adoção agressiva de veículos elétricos.

Mesmo em sua forma restrita, o projeto de lei pode servir de exemplo para outros governos estaduais e locais dentro e fora dos EUA sobre como incentivar a redução do trânsito e o aumento do uso do transporte público.

“Não carreguem veículos elétricos”

Com a rede elétrica da Califórnia sob pressão devido ao calor extremo, prolongado e o consumo elevado, a operadora da rede elétrica está pedindo aos moradores que evitem carregar seus veículos elétricos.

A Califórnia precisa de 1,2 milhão de estações de recarga públicas. Foto: Freepik

“As três principais ações para economizar energia são ajustar os termostatos do ar condicionado para 26 graus ou mais, evitar carregar os veículos elétricos e desligar as luzes desnecessárias”, disse a American Public Power Association, pedindo aos moradores que limitem o uso de energia das 16h às 21h.

“Hoje, a maioria das pessoas carrega seus carros elétricos quando chega em casa à noite, quando a demanda de eletricidade já está normalmente no pico”, de acordo com a Faculdade de Engenharia da Universidade de Cornell. “Esse excesso de pico precisa ser gerenciado para que a rede não entre em colapso”.

A Califórnia já possui o maior mercado de veículos elétricos do país, com mais de 1,1 milhão registrados. Isso compreende 43% desse tipo de automóvel no país. Hoje, porém, existem apenas 80.000 estações de recarga públicas em todo o estado, muito abaixo dos 1,2 milhão necessários até 2030. Os veículos elétricos representaram menos de 3% das vendas de automóveis novos nos EUA no ano passado, mas os analistas esperam grandes aumentos na próxima década. Nos EUA, Massachusetts, Washington e Nova York estão entre os estados que estabeleceram metas para transformar seus mercados de automóveis ou já se comprometeram a seguir as novas regras da Califórnia.