ECONOMIA

Filha de magnata russo investigada por lavagem de dinheiro na França

Promotores de Paris querem saber como a jovem de 32 anos comprou vilas de mansões na Riviera 

Da redação | 29 de novembro de 2022 - 21:55

Bloomberg

O bilionário russo Suleiman Kerimov, 56, e sua família devem enfrentar uma nova investigação na França, iniciada por uma equipe de promotores que querem saber como sua filha adquiriu várias mansões de luxo na Riviera e quem é o beneficiário final. Uma unidade parisiense encarregada de combater o crime organizado está liderando a investigação sobre os fluxos financeiros que permitiram que Gulnara Kerimov, 32, comprasse quatro vilas na “Billionaire Bay” em Cap d’Antibes. As empresas que venderam os imóveis já foram objeto de um caso de lavagem de dinheiro aberto há vários anos em Nice, no sudeste da França.

Os promotores desta unidade especial agora estão se baseando em relatório de junho do órgão antilavagem de dinheiro da França, o Tracfin. De acordo com o documento, Gulnara gastou 268 milhões de euros (1,469 bilhão de reais) para assumir a estrutura de propriedade, com fundos fornecidos em sua maior parte por seu irmão Said, informou o jornal investigativo Mediapart.

Em resposta às perguntas da Bloomberg, os promotores de Paris confirmaram que a Junalco (Tribunal Nacional Encarregado na Luta Contra o Crime Organizado) está assumindo a liderança na investigação da Tracfin.

Jovem russa investigada por lavagem de dinheiro na França

Família do bilionário russo será investigada sobre compra suspeita de mansões na Riviera Francesa.

Nikita Sichov, advogada que representa Suleiman, Said e Gulnara, disse que a família não quer ter problemas com a justiça francesa, sugerindo que a mudança de sócio das propriedades é bem conhecida das autoridades locais.

“O relatório da Tracfin a que você se refere diz respeito a uma reestruturação realizada em total transparência com os órgãos competentes, a fim de cumprir todos os regulamentos em vigor”, disse Sichov em resposta às perguntas da Bloomberg.

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A nova investigação é mais uma notícia ruim para a família de Kerimov, que até o início deste ano detinha uma participação majoritária na Polyus PJSC, a maior mineradora de ouro da Rússia. Ele saiu totalmente da empresa em maio.

Kerimov, que é senador na Rússia e cujo patrimônio líquido é de 10,9 bilhões de dólares, (52,95 bilhões de reais) de acordo com o Bloomberg Billionaires Index, já foi multado várias vezes pela Justiça dos EUA, desde 2018. Duas semanas atrás, os EUA penalizaram Said, Gulnara e as quatro imobiliárias francesas que ela adquiriu, bem como Alexander Studhalter, um associado de Kerimov que já havia usado uma empresa suíça para a propriedade das vilas. A União Europeia e o Reino Unido adicionaram Kerimov às suas listas de empresas suspeitas, após a invasão da Ucrânia. Said foi sancionado pela UE desde abril.

Enquanto Kerimov está na lista de sanções da UE, as quatro vilas não aparecem na lista de propriedades congeladas da França, destacando a dificuldade que as autoridades locais têm em vincular as casas de luxo a ele.

Esse caso ficou mundialmente conhecido quando o bilionário russo foi preso no aeroporto de Nice, em novembro de 2017, acusado de lavagem de dinheiro. A prisão foi dramática. Kerimov havia voado em um jato particular para a cidade francesa, planejando ir para Cap d’Antibes. Em vez disso, ele foi recebido por policiais fortemente armados. Alguns meses depois, ele conseguiu ficar em prisão domiciliar na cidade costeira, mas com obrigação de se apresentar à polícia toda a semana. Ele também foi autorizado a retornar à Rússia apenas com permissão especial para visitas curtas.

No começo, grande parte dessa investigação se concentrou nos pagamentos secretos feitos no valor de 92 milhões de euros (cerca de 502 milhões de reais) durante a compra da “Villa Hier”, a famosa casa usada num filme de 1988, o Dirty Rotten Scoundrels (“Os Safados”)., com Michael Caine.

Sichov, advogado de Kerimov, disse que as acusações contra seu cliente no caso de Nice relacionadas à venda da Villa Hier foram rejeitadas e que o bilionário não está enfrentando nenhum processo criminal.

Os russos ricos, presença frequente na Riviera Francesa, praticamente desapareceram desde a invasão da Ucrânia em fevereiro deste ano. Eles costumavam ser vistos passando férias nas suas grandes vilas com vista para o mar ou passeando com os seus superiates de Saint-Tropez a Mônaco. Muitas mansões foram confiscadas e vários barcos foram imobilizados em toda a Europa.

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