Objetivo é combater o vírus amarelo que ataca a beterraba utilizada na produção de açúcar
O governo do Reino Unido voltou a dar autorização de emergência para uso de um tipo de defensivo proibido e que pode prejudicar as abelhas. A permissão para usar um neonicotinóide em sementes de beterraba foi dada para proteger a cultura de um vírus espalhado por pulgões. A autorização não contou com o apoio do conselho de um painel independente de especialistas em defensivos agrícolas.
Sandra Bell, da organização não governamental Amigos da Terra, presente em mais de 75 países e com filial em Londres, protestou dizendo que a mudança é “incrivelmente perigosa”. E acrescentou: “O governo foi diretamente contra o conselho de seus próprios consultores científicos e isso pode gerar consequências devastadoras para as abelhas e outros polinizadores. O governo deve cumprir seu dever de proteger a vida selvagem e manter os defensivos fora de nossas plantações para sempre”.
O Comitê Independente de Especialistas em Defensivos do Reino Unido (ECP) também não apoiou a decisão: “Depois de avaliar o risco, vimos que o uso deste defensivo pode diminuir o número de abelhas e impactar até na capacidade de voo delas (que também influenciaria na sobrevivência das forrageiras, ou seja, nas plantas usadas como fonte de alimento para os animais)”.
Já Michael Sly, presidente do conselho da União Nacional dos Agricultores de Açúcar da Inglaterra (NFU Sugar), comemorou a decisão, dizendo que estava “aliviado”. E continuou: “A safra de beterraba britânica continua ameaçada pelo vírus amarelo, que nos últimos anos causou perdas de até 80%”.
O Departamento de Meio Ambiente, Alimentos e Assuntos Rurais (Defra) confirmou que as condições emergenciais já estão em vigor e que o defensivo, um tratamento de sementes chamado tiametoxam, só pode ser usado se a incidência de vírus amarelo for de 63% ou mais. Apesar da liberação em situação de emergência, a proibição geral do uso de defensivos neonicotinóides permanece em vigor no Reino Unido.
O secretário da Agricultura, Mark Spencer, disse que a autorização de emergência foi tomada após “análise cuidadosa” e como “uma medida necessária para proteger a indústria britânica”. Ele também admitiu que ainda existe “uma certa incerteza em relação aos riscos para as abelhas”.
Apesar da aprovação do Defra em condições específicas, o conselheiro científico chefe do departamento e professor Gideon Henderson revelou que “há evidências claras e abundantes de que esses neonicotinóides são prejudiciais a outras espécies além daquelas que pretendem controlar e, particularmente, aos polinizadores, incluindo as abelhas”.
Apesar deste defensivo não ser aprovado para este uso normalmente, este é o terceiro ano que o governo concede autorização de emergência.
A foto de abertura desta reportagem é do Axel Kirchhof / Greenpeace