Primeira-ministra alerta para tempos difíceis, promete respeito à democracia e denuncia "chantagem de Putin"
A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, fez seu primeiro discurso no Parlamento, nesta terça-feira, quando recebeu o voto de confiança para iniciar um novo governo. Ao apresentar o seu plano de governo, a premiê fez questão de negar qualquer estreitamento ou simpatia com o fascismo, acusação que os adversários políticos sempre ressaltaram, tendo em vista o fato de que ela, na juventude, militou em grupos neofascistas. Ao tentar deixar claro esse ponto, ela disse ser totalmente contra regimes ditatoriais. “Nunca senti qualquer simpatia ou proximidade com regimes antidemocráticos. Por nenhum regime, incluindo o fascismo”, disse ela. “Da mesma forma, sempre considerei as leis raciais (antissemitas) de 1938 o ponto mais baixo da história italiana, uma vergonha que manchará nosso povo para sempre”.
Meloni prometeu ajudar as famílias e empresas atingidas pela crise de energia que afeta, igualmente, outros países da União Europeia. Em seu discurso, ela procurou destacar as dificuldades enfrentadas pelo país: “O contexto em que o governo agirá é muito complicado, talvez o mais difícil desde a Segunda Guerra Mundial”, disse ela, lembrando o risco de uma recessão no próximo ano, além da inflação crescente e as consequências da guerra da Ucrânia.
Meloni enfatizou o apoio às sanções impostas pelo Ocidente contra a Rússia, como represália pela invasão da Ucrânia, apesar do risco de novos cortes no fornecimento de gás pelos russos. “Quem acredita que é possível trocar a liberdade da Ucrânia por nossa paz de espírito está enganado. Ceder à chantagem de Putin sobre a energia não resolveria o problema, mas o exacerbaria ao abrir caminho para mais demandas e chantagens”.
A premiê, de 45 anos, criticou em seu discurso algumas medidas da União Europeia e da OTAN, o bloco militar do ocidente. Porém ressaltou que apesar das discordâncias a Itália não deixara nenhum dos blocos. “A União Europeia se envolveu em muitas coisas que deveriam ter sido deixadas para os estados-nação e esteve ausente nas grandes questões estratégicas”, disse ela.
Meloni ascendeu ao poder no mês passado, ao formar uma coalizão entre seu partido, Irmãos da Itália, com o Forza Itália, liderado pelo ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, e a Liga de Matteo Salvini, todos integrantes da direita italiana. O governo que se inicia é o mais direitista do país desde a Segunda Guerra Mundial.
Meloni, que passou a infância e juventude num bairro da periferia de Roma, desafiou os críticos que a acusavam de ser uma demagoga liberal. Questionada por seus adversários e aliados políticos sobre a imigração, ela disse que a Itália tentará impedir o tráfico de pessoas pelo Mediterrâneo e trabalhará com os governos da África para ajudar a deter os fluxos de refugiados para o continente. Ninguém deve vir para a Itália ilegalmente”, disse ela.
Os apoiadores de Meloni aplaudiram de pé seu discurso que durou mais de uma hora, aos gritos de: “Giorgia, Giorgia”. A Câmara dos Deputados aprovou seu novo governo em um voto de confiança, com confortável maioria. Uma votação semelhante é esperada para hoje no Senado.