COMPORTAMENTO

Exibir vídeos íntimos, uma nova forma de assédio no trabalho

Como proceder diante dessa prática, cada vez mais comum em certos ambientes?

Da redação | 29 de setembro de 2022 - 21:58

Por Karla L. Miller*,
Colunista de Recursos Humanos do Washington Post

Você é uma mulher e está na sala do seu chefe discutindo algo relacionado ao trabalho. De repente, entra um vídeo no celular dele com cenas de sexo bem diante de seus olhos.

O que você faz? Como reagir diante de uma situação tão delicada?

O chefe não vê a entrada das imagens porque estava falando com você, mas a tela do celular estava virada em sua direção e foi constrangedor.

Esta é a primeira vez que algo assim acontece. Você deve dizer algo a ele? Como ser profissional nessa hora?

Regras básicas

Primeiro, é preciso relembrar algumas questões essenciais que devem ser observadas no ambiente corporativo.

Assistir a filmes durante o horário de trabalho, independentemente de quais sejam, está muito longe de ser profissional, a menos que tenha alguma relevância para o seu trabalho.

Outra norma importante. Assistir a conteúdo sexualmente sugestivo no celular não é profissional; viola os padrões de conduta do trabalho respeitoso e é levado a sério pela maioria dos empregadores; por isso, esta pode ser considerada uma prática que contribui para um ambiente de trabalho hostil, especialmente se você estiver submetendo outras pessoas a esse conteúdo impróprio e elas se sentirem ofendidas.

O impacto importa mais do que a intenção. Mesmo que alguém não tenha pretendido exibir tal conteúdo, ofender ou deixar os outros desconfortáveis, isto não é suficiente para escapar da responsabilidade.

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Áreas cinzentas

No caso em análise, há muitas áreas cinzentas que fogem do código de comportamento básico do mundo corporativo. Então, cabe considerar uma gama completa de possibilidades, desde “uma brincadeira descuidada em uma única oportunidade” até “abrir a jogada em uma campanha de assédio”.

assédio no trabalho

Uma situação pode não ser o que parece. Por isso, atenção aos detalhes. (Foto: Pexels)

Imaginando um extremo, seu chefe tem o celular no YouTube com a reprodução automática ativada e, sem perceber, roda aquele conteúdo impróprio para você. Nesse caso, fica evidente que ele não foi profissional.

Infelizmente, sendo este mundo o que é, também imaginar um cenário bem pior: o chefe expõe deliberadamente a você a um clipe atrevido, para ver como você reagiria.

O que fazer na hora?

Muitos chefes-predadores saem impunes de situações como essa, de comportamento ultrajante, porque a vítima tem dificuldade de entender e, se for o caso, comprovar que o episódio se enquadra como assédio. Pesa também a dúvida sobre se aquele foi um caso isolado ou se faz parte de um padrão de comportamento daquele homem no trabalho.

Você poderia ter uma ideia melhor do que realmente estava acontecendo se tivesse dito algo neutro e não reativo no momento para chamar a atenção para a interrupção. Algo do tipo: “O que você está assistindo?” ou “Desculpe, você pode pausar isso? Está me atrapalhando a nossa conversa”. E ficar de olho na reação do seu chefe.

O que acontece, normalmente, é que a maioria das mulheres são pegas de surpresa, ficam constrangidas e não sabem como proceder em resposta ao incidente. Aliás, isso é algo com que os “predadores” contam. E agora, que o momento passou, é difícil pensar em uma maneira eficaz de trazê-lo à tona sem tornar as coisas mais difíceis para você.

Relate o episódio

Mas você ainda possui sua lembrança do que aconteceu e pode usá-la para se preparar caso aconteça novamente. Anote a data e a hora do incidente, o que aconteceu, o que você viu, como se sentiu, o que foi dito e a quem você contou sobre isso. Envie o relato por e-mail para sua conta pessoal ou salve-o em algum lugar fora da propriedade e das redes da empresa.

Se foi um episódio único, você pode deixá-la desaparecer da memória. Mas se algo semelhante acontecer novamente com aquele mesmo chefe, então você terá elementos para enfrentar a situação e mais segurança para denunciar.

Seu registro ajudará a mostrar a você mesma que esses incidentes fazem parte de um padrão de comportamento, não devem ser aceitos impunemente e ajudará a impedir que alguém a convença a não acreditar no testemunho de seus próprios olhos.

*Karla L.  Miller é editora do Washington Post e escreve todos os domingos coluna sobre “Dramas e traumas no ambiente de trabalho”

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