SAÚDE

Espiritualidade faz bem à saúde

Pacientes que adotam espiritualidade reagem melhor aos tratamentos

Por: Mario Augusto
Da redação | 27 de julho de 2022 - 18:24

A ciência avança no reconhecimento dos efeitos benéficos da espiritualidade no tratamento de doenças graves ou na melhoria da saúde geral dos pacientes. Estudo organizado por pesquisadores da Harvard School of Public Health e do Brigham and Women’s Hospital concluiu que a espiritualidade deve ser incorporada aos tratamentos médicos, observando sempre o paciente como um todo e não somente pela perspectiva da doença da qual ele é portador.

O artigo, publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA), faz uma revisão sistemática da literatura sobre saúde e espiritualidade de 2000 a 2022. Foram analisados mais de quinze mil artigos científicos sobre os dois termos de pesquisa. Em primeiro lugar, o trabalho mostra que, em geral, as pessoas que adotam alguma prática de espiritualidade, reagem melhor no manejo de doenças graves, com sensível aumento da expectativa de vida ou menor necessidade de medicação de suporte.

Espiritualidade faz bem à saúde

Pesquisa mostra que espiritualidade é aliada do tratamento terapêutico em pacientes com doenças graves. Foto: Pexels.

“Nossas descobertas indicam que a atenção à espiritualidade em doenças graves e na saúde deve ser uma parte vital do futuro cuidado integral centrado na pessoa”, destaca a médica Tracy Balboni, autora da pesquisa e professora de oncologia na escola de medicina de Harvard.

Pesquisadores sugerem três medidas práticas:
• Incluir o cuidado espiritual nos tratamentos de pacientes com doenças graves;
• Educação para o cuidado espiritual na formação de equipes de saúde;
• Inclusão de profissionais especializados em cuidados espirituais na atenção aos pacientes.

Por outro lado, a pesquisa considera que o contato direto de religiosos com pacientes em tratamento influencia nos principais resultados da doença, como qualidade de vida e decisões sobre os cuidados médicos.

Médico Paulo Saldiva, professor da Faculdade de Medicina da USP

Saldiva: “Nós fomos feitos para ter uma atividade espiritual”.

O médico Paulo Saldiva, professor titular no Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP, concorda com os resultados do estudo. Para ele esse efeito benéfico também se observa em outras atividades, pois num momento de doença ou no desespero, as pessoas podem ser motivadas a superar determinada adversidade, como, por exemplo, diante da proximidade do casamento de um filho ou o nascimento de um neto.

“Isso não é só uma impressão. São dados objetivos. Estão associados a alterações de hormônios que regulam a inflamação, regulam o funcionamento da nossa psique, diminuem a depressão, enfim, há uma série de fenômenos biológicos para explicar isso. Eu não posso dizer que não exista uma ação espiritual em si. Eu acredito em Deus. Mas acredito também que nós fomos feitos para ter uma atividade espiritual”, explica Saldiva.

Reencontro entre ciência e espiritualidade

O médico paulistano lembra que este movimento evidenciado pelos pesquisadores da Universidade de Harvard, na verdade, é um retorno às origens da humanidade.

“O sofrimento, na antiguidade, fez com que a medicina morasse em templos. Depois vem Hipócrates, tira dos templos e coloca na observação à beira do leito. Depois vêm os iluministas que colocam esperança na ciência. Mas essas três camadas, uma não substitui a outra. Então, na hora do aperto, você vai frequentar um templo religioso, procurar um apoio no divino. Nós somos a mesma pessoa. A camada mística ou espiritual, a camada lógica da filosofia grega e o iluminismo cartesiano não eliminam um ao outro. Elas fazem parte do mesmo todo”, afirma Paulo Saldiva.

Segundo os pesquisadores, o simples ato de perguntar sobre a espiritualidade de um paciente pode e deve fazer parte do cuidado centrado na pessoa. As informações coletadas nessa conversa servem para orientar a tomada de decisões médicas adicionais, incluindo o direito de chamar um especialista em cuidados espirituais, um religioso ou representante de quaisquer tradições ou denominações religiosas, com quem o paciente possa compartilhar o seu momento de dor ou mesmo preparar-se para uma conexão com a espiritualidade.

+ DESTAQUES