Um número cada vez maior de imigrantes, procedentes da América Latina e da Ásia, tem se arriscado a atravessar a fronteira gelada do Canadá com os Estados Unidos, nos últimos meses. Dados da Patrulha de Fronteira dos EUA mostram que houve um aumento de 743% nas ocorrências envolvendo imigrantes ilegais tentando cruzar a fronteira no último ano.

Robert Garcia, chefe da US Border Patrol em Swanton – que cobre Vermont, Nova York e New Hampshire – explica que os imigrantes se arriscam pelo lado norte, porque a entrada pela fronteira fria é mais fácil do que pelo México. Os imigrantes que tentam a sorte via Canadá se submetem a condições extremas, caminhando pela neve a uma temperatura média de menos 11º Celsius, mas que pode cair abruptamente para 40 graus negativos.

Imigrantes ilegais são pegos de surpresa pelas baixas temperaturas. (Twitter/US Border Patrol).

Garcia diz estar preocupado com a crescente popularidade da rota de contrabando de pessoas. Para ele, os imigrantes, vindos de países quentes, não imaginam como a temperatura pode cair na região. e Os traficantes, conhecidos como coiotes, estão explorando o desespero das pessoas, com consequências potencialmente letais, em meio a rios congelados e passagens perigosas.

No setor de Grand Forks, que cobre Minnesota e Dakota do Norte, a Patrulha de Fronteira registrou 90 apreensões nos últimos três meses desde 1º de outubro. O número é superior ao de todo o ano de 2022, quando foram apreendidos 80 imigrantes ilegais entre 30 de setembro de 2021 e 1º de outubro de 2022.

Travessia pode ser fatal

As consequências mortais dessa travessia pela fronteira norte foram reveladas há um ano, quando uma família indiana de quatro pessoas foi encontrada morta no setor de Grand Forks. Os pais e dois filhos, de 11 e 3 anos, caminharam com neve até a cintura em uma nevasca por 11 horas antes de morrerem. No dia da tragédia, as temperaturas caíram para -40º Celsius. No início de Janeiro, um homem haitiano também morreu congelado ao tentar atravessar a fronteira

Travessia em meio à neve e rios congelados é repleta de perigos. (Twitter/US Border Patrol)

“Infelizmente, as organizações criminosas que lucram com o aumento do fluxo de tráfico humano se preocupam apenas com os lucros e não têm nenhuma preocupação com o bem-estar daqueles cuja situação procuram explorar para obter ganhos financeiros”, alertou Robert Garcia.

A Patrulha de Fronteira informou que somente em Dezembro último, o número de imigrantes encontrados no setor norte já havia ultrapassado todas as ocorrências do ano passado. Foi um recorde de 441 pessoas apreendidas em dezembro.

Fluxo migratório aumenta no inverno

Os dados mostram que as travessias ilegais na fronteira do Canadá aumentam à medida que se aproximam os meses de inverno mais rigorosos, porque os coiotes convencem os imigrantes de que o risco de serem pegos é menor.

“Frentes imprevisíveis de tempestade trazem gelo e acúmulo significativo de neve durante o inverno prolongado”, alertou a Patrulha da Fronteira.

“Essas características geográficas e climáticas podem tornar perigosa a travessia de um território desconhecido. Além disso, o risco de hipotermia devido à exposição prolongada a temperaturas quase congelantes, em geral acompanhadas de vento, é significativo”, alerta Garcia.

Kathryn Siemer, agente de patrulha interina encarregada da estação em Pembina, Dakota do Norte, disse que o aumento acentuado nas apreensões de imigrantes ilegais se deve, em parte, ao fato de o Canadá ter afrouxado as suas restrições à Covid-19. “Os imigrantes conseguem chegar ao Canadá e, não gostando da vida lá, tentam a sorte nos Estados Unidos”, disse Siemer.