O gesto foi visto como apoio "silencioso" às manifestações contra o governo, por agressões aos direitos das mulheres
A seleção do Irã se recusou a cantar o hino nacional do país durante sua primeira participação na Copa do Mundo contra a Inglaterra nesta segunda-feira (21). O gesto foi visto como um ato de apoio aos protestos contra agressões contra mulheres, que atingem o país há mais de um mês.
A equipe, conhecida como “Team Mell”, vinha recebendo críticas por não se posicionar sobre os protestos no país. O líder do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, por outro lado, havia alertado os atletas para não “desrespeitarem o modelo islâmico” durante a Copa do Catar.
A estrela do futebol iraniano, Ali Daei, já havia boicotado a Copa do Mundo e ficou em casa para mostrar solidariedade aos manifestantes. Na semana passada, o ex-goleiro Parviz Boroumand foi preso por participar de protestos, informou a mídia estatal.
A participação da seleção do país, devido a sua popularidade tem sido usada pelo governo para fins de propaganda. A TV estatal iraniana tem aproveitado a ocasião para propagar seus próprios videoclipes promovendo a unidade nacional e a equipe tem enfrentado críticas dos manifestantes por não se manifestar.
Neste domingo, o capitão da seleção iraniana, Ehsan Hajsafi, manifestou suas condolências às famílias das pessoas mortas durante os protestos. “Estamos ao lado deles e sentimos sua dor”, disse ele em entrevista coletiva em Doha. Ele se referiu especificamente a um menino de nove anos que foi morto em protestos na cidade de Izeh, no sudoeste do país, na semana passada, cuja família e grupos de direitos humanos dizem ter sido baleado pelas forças de segurança.
A equipe foi criticada após uma foto tirada na semana passada em que os jogadores aparecem ao lado do presidente Ebrahim Raisi. Na cena, pelo menos dois jogadores aparecem curvando a cabeça em deferência ao clérigo linha-dura. As imagens se tornaram virais no Twitter, gerando indignação de parte da população iraniana.
Em outros eventos esportivos, várias seleções iranianas também se posicionaram. A equipe masculina de pólo aquático se recusou a cantar durante o hino do Irã em um evento em 8 de novembro. Já atletas iranianas competiram sem véu em torneios internacionais, pela primeira vez em décadas, atraindo a ira das autoridades.