PERFIL

Como não sabia falar Inglês, ela começou a desenhar. E descobriu uma carreira

Angela Guzman foi uma das responsáveis por criar os primeiros emojis, hoje uma paixão de internautas no mundo inteiro

Por: Júlia Castello
Da redação | 30 de dezembro de 2022 - 21:55

Na infância, em Bogotá, na Colômbia, ou na adolescência, em Key Largo, na Flórida, para onde a família se mudou, ela nunca poderia imaginar que seria responsável por um dos grandes sucessos no universo digital. Na verdade, a trajetória de sucesso está relacionada, por mais que pareça contraditório, com uma dificuldade sua: o fato de frequentar uma escola nos Estados Unidos sem falar ou entender Inglês. Com dificuldades para se comunicar, com os professores e com os colegas, ela fazia desenhos para explicar o que queria dizer ou o que estava pensando. Foi assim que ela descobriu sua facilidade para desenhar e reproduzir situações. E esse seria o passo decisivo para a futura criadora de emojis, os desenhos vistos e curtidos por milhões de internautas, no mundo inteiro.

Desde a terceira série até o último ano do ensino médio, Angela Guzman ficou conhecida como a artista da turma. Dos riscos iniciais, seus desenhos começaram a melhorar cada vez mais, levando a cursar design na “Escola de Design de Rhode Island” e tempos depois fazer mestrado em design gráfico. Mesmo a vida a levando pelo caminho do desenho, Angela confessa em uma entrevista para a revista Psychology Today, que nunca tinha ouvido falar em “emojis“. Seu primeiro contato foi durante seu estágio na Apple em 2008.

Angela começou a desenhar quando se mudou para os Estados Unidos para se comunicar. (Foto: Redes Sociais)

“Meu diretor na época me deu a tarefa. Fiquei tão envergonhada porque não entendi o que ele quis dizer! Eu perguntei: “O que é um emoji?” Ele riu e disse que era um ícone, uma imagem, uma espécie de ilustração”. Junto com um mentor, Angela foi responsável por criar os primeiros emojis que são utilizados ainda hoje. Inclusive o famoso emoji de carinha chorando de rir, eleito a palavra do ano de 2015, pelo dicionário de Oxford.

A importância

Para Angela que hoje tem mestrado em design gráfico e estuda o papel do design na experiência do usuário e na comunicação, os emojis completaram uma lacuna importante na forma como as pessoas se expressam, principalmente no mundo digital. Diferente de uma conversa cara a cara em que se vê as reações das pessoas durante a conversa, ou no telefone por meio da tonalidade na voz das pessoas, as mensagens no mundo digital trazem a dificuldade de não saber o que o outro está sentindo, o que pode criar obstáculos na comunicação.

De acordo com Angela, é exatamente a percepção de sentimentos que os emojis trazem para o usuário que faz com que as pessoas os utilizem tanto no dia a dia. “Você estuda minúsculas microexpressões e depois as simplifica e exagera de maneira ilustrativa. Por exemplo, as sobrancelhas formam um ‘V’ de raiva e um ‘V’ invertido de surpresa. Olhos grandes podem transmitir emoção, surpresa e felicidade”, explica.

Além de representar as expressões mais comuns do ser humano como raiva, tristeza, felicidade, vergonha, alguns emojis têm o poder especial de expressar o que muitas vezes é difícil descrever em palavras. Para ela é o exemplo e o motivo do sucesso do emoji de “chorando de rir”. Este desenho representa um riso extremo, em que a pessoa literalmente “chora de rir”. Ela conta que as pessoas não vão escrever “tenho lágrimas de alegria”, e que o emoji se encaixa perfeitamente para mostrar esta reação.

Emoji

Emojis representam expressões humanas. (Foto: FreePik)

Desafios

Com uma lista extensa de palavras que teve que converter em desenhos, para criar os emojis em seu estágio, alguns objetos também foram incluídos. Ela conta que o desafio não era criar uma cópia exata deles no mundo real, mas fazê-los em uma escala tão pequena em que mesmo assim fossem entendidos por qualquer um. Assim, como na escola em que Angela desenhava para se comunicar, os emojis precisavam ser entendidos não apenas por colegas da escola, que falam Inglês, mas por pessoas de culturas e línguas do mundo todo.

Angela diz que a chave para a inclusão de um desenho em culturas tão diferentes são as cores. Ela afirma que presta muita atenção no simbolismo que uma cor possui dentro da comunicação e na expressão de uma nacionalidade. Pra ela esta experiência foi fundamental inclusive para trabalhar depois da Apple, no “Google Assistant“, do Google. Lá ela tinha o desafio de garantir que “toda cultura, todo sotaque, toda pessoa que utiliza o dispositivo se sinta incluída”.

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