Em artigo o general Valeriy Zaluzhnyi chama a atenção para o risco real de a Rússia usar armas nucleares na Ucrânia
Por Miriam Berger
Do Washington Post
O principal chefe militar da Ucrânia alertou esta semana que uma guerra nuclear “limitada” entre a Rússia e o Ocidente não pode ser descartada, um cenário que desencadearia graves consequências globais.
“Existe uma ameaça direta do uso, sob certas circunstâncias, de armas nucleares táticas pelas forças armadas russas”, escreveu o chefe militar da Ucrânia, general Valeriy Zaluzhnyi em um artigo publicado pelo Ukrinform, uma agência de notícias estatal ucraniana. “Também é impossível descartar completamente a possibilidade do envolvimento direto dos principais países do mundo em um conflito nuclear ‘limitado’, no qual a perspectiva da Terceira Guerra Mundial já é diretamente visível.”
Zaluzhnyi também reconheceu pela primeira vez que Kyiv estava por trás de ataques nas profundezas da península da Crimeia ocupada pela Rússia em agosto. As bases aéreas e o depósito de munição que foram atingidos estavam em áreas anteriormente consideradas fora do alcance da Ucrânia – mas faziam parte de sua estratégia de mudar “o centro de gravidade do Exército russo”, escreveu Zaluzhnyi.
Com a quase certeza de que os combates continuarão até 2023, a Ucrânia precisa reagir contra a Rússia “ainda mais nítida e tangível”, escreveu Zaluzhnyi.
A avaliação do chefe militar ocorre no momento em que as forças armadas da Ucrânia afirmam estar recapturando pequenas áreas em contraofensivas no sul e no leste do país — combates que estão cobrando um alto preço dos soldados ucranianos, que enfrentam pesadas perdas contra as armas e tecnologias mais avançadas da Rússia.
O alerta de Zaluzhnyi segue semanas de alarme internacional sobre um possível desastre na maior instalação nuclear da Europa, a Usina Nuclear de Zaporizhzhia, no sudeste da Ucrânia. As autoridades russas controlam a usina, com mais de 1.000 trabalhadores ucranianos tentando mantê-la funcionando e conectada à rede elétrica de seu país, apesar dos frequentes bombardeios.
A agência de vigilância atômica da ONU pediu na terça-feira uma zona segura para evitar uma catástrofe nuclear. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky disse que apoia a ideia se isso significar a saída das tropas russas. Ambos os lados acusaram o outro de disparar foguetes e artilharia pesada ao redor da usina.
Zaluzhnyi disse que o uso da usina pela Rússia como base militar mostra seu desrespeito pelas salvaguardas nucleares globais “mesmo em uma guerra convencional”.
A Ucrânia lançou recentemente suas contraofensivas destinadas a retomar Kherson, uma cidade portuária estratégica no sul, e áreas ocupadas pelos russos ao longo da fronteira na região nordeste de Kharkiv.
Embora grande parte do centro e oeste da Ucrânia permaneça praticamente ilesa, os mísseis de cruzeiro russos ainda são uma ameaça e podem atingir todo o país com “impunidade”, escreveu Zaluzhnyi. “Enquanto a situação atual persistir, esta guerra pode durar anos”, concluiu o general ucraniano.