O Gaia BH1, como foi batizado, pesa 10 vezes a massa do Sol e está localizado a 1.600 anos-luz da Terra, distância muito pequena quando consideramos a escala gigantesca do Universo, mais ou menos como se fosse o quintal cósmico do nosso planeta.
O buraco negro encontra-se na constelação de Ophiuchus, três vezes mais próximo da Terra do que o recordista anterior, um binário de raios-X na constelação de Monoceros.
No entanto, a descoberta de Gaia BH1 traz uma intrigante questão para a qual os astrônomos ainda não têm resposta. O buraco negro está bem perto de uma estrela também semelhante à nossa, o que nunca havia sido observado.
Os buracos negros são os objetos mais extremos do Universo. Eles existem aos milhões na Via Láctea, mas apenas um punhado deles foi confirmado até o momento, e quase todos são ‘ativos’ – o que significa que brilham intensamente em raios-X enquanto consomem material de um companheiro estelar próximo, ao contrário de buracos negros adormecidos, como o Gaia BH1, que não engolem nenhum vizinho.
Espécie de abismo cósmico
Para ficar mais claro, um buraco negro é uma espécie de abismo cósmico que suga para si tudo o que se aproxima dele a uma determinada distância propícia a essa sucção. Com atração gravitacional extremamente forte, nem mesmo a luz escapa de ser atraída para os buracos negros.
Mas no caso de Gaia BH1 isso não acontece. A estrela reluzente que aparece por perto permanece intacta porque o buraco negro está completamente adormecido (dormente e silencioso).
“Embora tenha havido muitas detecções reivindicadas de sistemas como este, quase todas essas descobertas foram posteriormente refutadas. Esta é a primeira detecção inequívoca de uma estrela semelhante ao Sol em uma ampla órbita em torno de um buraco negro de massa estelar em nossa galáxia”, explica Kareem El-Badry, astrofísico do Centro de Astrofísica Harvard & Smithsonian e do Instituto Max Planck de Astronomia e o principal autor do artigo que descreve a descoberta.
“Procuro buracos negros adormecidos nos últimos quatro anos usando uma ampla variedade de conjuntos de dados e métodos ”, disse El-Badry. “ Minhas tentativas anteriores – assim como as de outros – resultaram em uma variedade de sistemas binários que se disfarçam de buracos negros, mas esta é a primeira vez que a pesquisa deu frutos”, destaca o cientista.
A equipe originalmente identificou o sistema analisando dados do satélite Gaia, da Agência Espacial Europeia, que capturou pequenas irregularidades no movimento da estrela causadas pela gravidade de um objeto massivo invisível, que era justamente o buraco negro.
Para explorar o sistema com mais detalhes, a equipe de El-Badry recorreu ao telescópio Gemini North para medir a velocidade da estrela companheira enquanto ela orbitava o buraco negro e também para fazer a medição precisa de seu período orbital.
Os cientistas ainda não sabem como a estrela de massa solar sobreviveu ao buraco negro. Todos os modelos teóricos que permitem a sobrevivência preveem que a estrela de massa solar deveria estar em uma outra órbita.
“Isso levanta muitas questões sobre como esse sistema binário foi formado, bem como quantos desses buracos negros adormecidos existem por aí”, concluiu El-Badry.