Dois anos após a saída da União Europeia, o país enfrenta a recessão econômica, inflação e aumento nos preços dos alimentos
Pergunte aos britânicos como eles acham dos resultados da saída do Reino Unido da União Europeia e a resposta é essa: 2/3 acham que são ruins e apenas 1 em 5 entrevistados dizem que está tudo bem. Pesquisa do instituto Savanta, de Londres, revela que 56% dos entrevistados acreditam que o Brexit foi uma escolha errada. E pergunte o que acham da realidade do Brexit em comparação às expectativas que mantinham: 7 em 10 dirão que foi muito pior do que imaginavam.
Pesquisa do instituto YouGov registrou o mesmo número: 56% dos entrevistados acreditam que foi um erro a saída do país da União Europeia, para 32% que pensam o contrário. Outra pesquisa divulgada pelo British Polling Council aponta que 57% dos britânicos acreditam que o país não deveria ter saído do bloco. Os números mostram uma grande diferença em relação a 2016, quando o referendo que resultou na aprovação do Brexit foi aprovado por 52% do eleitorado.
Agora, dois anos após a entrada em vigor do Brexit, cerca de dois terços dos britânicos apoiam a convocação de um novo referendo sobre a volta à União Europeia: 65% defendem uma nova votação. O mesmo número de pessoas entende que a retirada do bloco europeu prejudicou a economia do país, que passa por uma inflação recorde, que chegou a 10,7%, recessão econômica, alta nos preços dos alimentos e inúmeros outros problemas. Estudo da London School of Economics indica que parte desse índice inflacionário – um recorde em 40 anos – se deve ao Brexit.
Entre outros problemas causados pela saída do país da União Europeia, empresários enfrentam uma enorme burocracia (inúmeros papéis) a serem preenchidos para exportação ou importação de produtos da União Europeia. Estudantes britânicos agora perderam o acesso às bolsas oferecidas pelos países do bloco europeu. E aposentados britânicos que haviam se mudado para o continente perderam uma série de vantagens de que desfrutavam como cidadãos da comunidade.
De acordo com o Centre For European Reforme – think tank que estuda o funcionamento das instituições na União Europeia – o Brexit custou ao Reino Unido 33 bilhões de libras em perdas de comércio e investimentos e 40 bilhões de libras na queda de arrecadação de impostos. Além disso, a economia britânica encolheu 5,5% em relação ao tamanho que teria, se tivesse permanecido na União Europeia.
Há quem acredite que o Reino Unido poderia buscar uma solução semelhante ao modelo utilizado pela Suíça, que tem acesso ao mercado da UE e controles reduzidos nas fronteiras. Em troca, os suíços pagam algumas taxas e aceitam as regras impostas pelos países do bloco.
Aprovado em Junho de 2016, o Brexit entrou em vigor em 1 de Janeiro de 2021. Hoje, um eventual retorno seria bastante difícil. Primeiro, porque o Partido Conservador, no poder, que levou adiante a aprovação da saída do bloco europeu, se recusa a aceitar o fracasso da medida. O atual primeiro-ministro, Rishi Sunak, votou a favor da medida e foi um dos principais apoiadores do então chefe do governo, Boris Johnson, principal defensor da retirada. Por sua vez, a oposição trabalhista não tem uma proposta para resolver o assunto.
Em segundo lugar, os líderes da União Europeia já deixaram claro que não vão facilitar as coisas para os britânicos, uma vez que eles próprios resolveram sair. Por último, os britânicos teriam que passar pelo vexame de voltarem depois das inúmeras acusações que fizeram, responsabilizando a UE pelos problemas econômicos do país.
Diante desse quadro, muitos cidadãos do Reino Unido agora incluíram em seu vocabulário o novo termo criado pela imprensa local: o Bregret, que seria o regresso, ou retorno, à União Europeia, ao contrário do Brexit.