Todos as contas suspensas pertenciam a pessoas que criticaram Elon Musk
O Twitter. Que havia suspendido as contas de vários jornalistas da CNN, New York Times, The Washington Post e outros veículos norte-americanos na quinta-feira (15/12), após o dono da rede social, Elon Musk, acusar os repórteres de postar informações que comprometem a segurança dele e da família, reativou todas elas neste sábado.
Preocupado com a repercussão da medida, que tem cara e cheiro de censura, Musk postou: “As mesmas regras de doxxing se aplicam a ‘jornalistas’ como a todos os outros”, em referência às regras do Twitter que proíbem o compartilhamento de informações pessoais, denominadas doxxing.
“Criticar-me o dia todo é totalmente aceitável, mas divulgar a minha localização em tempo real e colocar a minha família em perigo, não”, diz um tuite de Musk.
Um dia antes Musk também suspendeu a conta de Jack Sweeney, um jovem de 20 anos que usou informações de rastreamento de voos disponíveis publicamente para tuitar toda vez que o jato de Musk decolava e pousava. Essa conta continua suspensa.
A direção do jornal Washington Post declarou não ter encontrado nenhuma evidência de que algum de seus repórteres tenha feito publicações baseadas em informações pessoais sobre a localização de Elon Musk.
Sally Buzbee, editora-executiva do Post afirmou que o seu repórter de tecnologia Drew Harwellue “foi banido do Twitter sem aviso, processo ou explicação, após as publicações de suas reportagens precisas sobre Musk”, disse. “Nosso jornalista deve ser reintegrado imediatamente”, exigiu a editora.
“É impossível conciliar as aspirações de liberdade de expressão do Twitter com o expurgo das contas de jornalistas críticos”, disse o diretor-executivo da American Civil Liberties Union, Anthony D. Romero, em comunicado. “A Primeira Emenda protege o direito de Musk de fazer isso, mas trata-se de uma decisão descabida”, ponderou.
De acordo com o jornal Washington Post, os banimentos de contas foram rotulados como “direção de Ella” nos sistemas internos do Twitter. Uma alusão a Ella Irwin, chefe de confiança e segurança da plataforma, que cumpriu muitos dos pedidos de Musk desde que ele comprou a empresa no final de outubro e passou a liberalizar mais a rede, reabrindo contas como a do ex-presidente Trump, em nome do que ele chamou de “liberdade de expressão”.
A própria Irwin declarou como o Twitter agirá daqui pra frente. “Sem comentar sobre nenhuma conta específica, posso confirmar que suspenderemos todas as contas que violarem nossas políticas de privacidade e colocarem outros usuários em risco”, finalizou.
Musk twittou que as suspensões durariam uma semana, embora vários dos repórteres tenham sido informados pelo Twitter de que foram banidos permanentemente da rede social. Mas, diante da pressão dos meios, neste sábado Musk mandou reativar tidas as contas de jornalistas.
O Comitê para a Proteção dos Jornalistas atacou as suspensões. “Estamos preocupados com as notícias de que jornalistas que cobriram acontecimentos recentes envolvendo o Twitter e seu proprietário, Elon Musk, tiveram suas contas na plataforma suspensas. Se for confirmado que isso ocorreu como retaliação por seu trabalho, isso seria uma grave violação do direito dos jornalistas para relatar a notícia sem medo de represálias.”
A comissária da União Europeia, Vera Jourova ameaçou aplicar sanções ao Twitter por causa da suspensão abrupta de contas de jornalistas. Jourova invocou a Lei de Serviços Digitais da UE que exige respeito à liberdade de mídia. “Elon Musk deveria estar ciente disso. Existem linhas vermelhas. E sanções, em breve”, twittou a comissária.
Vera Jourova disse que as notícias sobre a suspensão arbitrária de jornalistas no Twitter são preocupantes. “A Lei de Serviços Digitais da UE exige respeito à liberdade de mídia e aos direitos fundamentais. Isso é reforçado por nossa Lei de Liberdade de Mídia”, reforçou.