"Celulares serão distribuídos pelo corpo, com sensores verificando a saúde. Energia do organismo substituirá baterias"
Marty Cooper, inventor do primeiro telefone celular comercial, não imaginava que a sua criação ganharia tantas aplicações e possibilidades no mundo da tecnologia. Naquela época, Cooper tinha apenas uma preocupação: que o celular funcionasse, permitindo a comunicação sem fio entre as pessoas. Após passar por uma verdadeira revolução tecnológica, a invenção de Cooper é usada para quase tudo no mundo digital e cada vez menos para fazer ligações convencionais, conforme idealizou o cientista cinco décadas atrás.
Do alto de seus 94 anos, Martin Cooper não esconde a preocupação com os impactos dos smartphones – os sucessores dos celulares primitivos – na sociedade, principalmente com relação à perda de privacidade, ao vício de ficar horas e horas conectado à internet e também à rápida disseminação de conteúdos prejudiciais, especialmente entre crianças.
“Minha opinião mais negativa é que não temos mais privacidade porque tudo sobre nós agora está registrado em algum lugar e acessível a alguém que pretenda obtê-lo”, disse Cooper, em entrevista concedida à Associated Press, durante o maior evento da indústria de telecomunicações, o Mobile World Congress, em Barcelona, na Espanha.
Por outro lado, Cooper mostra-se otimista com o avanço do design dos aparelhos e com as multifunções adquiridas pelo telefone celular. Ele acredita que as melhores aplicações da telefonia móvel ainda estão por vir em áreas como educação e saúde. “Entre o celular, a tecnologia médica e a internet, vamos conquistar muitos avanços no tratamento e cura de doenças”, disse o engenheiro eletrotécnico e designer norte-americano.
A invenção de Cooper
A primeira chamada pública de um telefone portátil foi feita no dia 3 de abril de 1973 em uma rua de Nova York, com um protótipo que a equipe da Motorola havia começado a projetar apenas cinco meses antes. Era o Dyna-TAC, que pesava um quilo e cem gramas e media quase 28 centímetros de comprimento, nada moderno para os dias de hoje.
Um fato curioso é que, para estimular a concorrência entre fabricantes, a primeira ligação oficial feita por Cooper com o Dyna-TAC foi para o seu rival Bell Labs, de propriedade da AT&T.
Falando sobre o futuro, o criador do telefone celular comercial, acredita que os aparelhos vão evoluir para que sejam “distribuídos em seu corpo”, como sensores capazes de “ir medindo sua saúde o tempo todo” e as baterias serão substituídas por energia humana. “Você ingere comida, você cria energia. Por que não ter este receptor para o ouvido embutido sob a pele, alimentado pelo corpo?”, imagina.
Cooper revelou que usa o telefone celular para checar e-mails e fazer buscas online por informações para resolver discussões na hora do jantar em família. Mas admite algumas limitações tecnológicas. “Ainda não sei o que é TikTok”, finalizou o pai do celular.