MEIO AMBIENTE
Foto de Philip Graves, na Unsplash

Os oceanos estão se aquecendo e o El Niño chega para complicar

O aumento nas temperaturas dos mares coloca em risco áreas litorâneas, além de várias espécies marinhas

Por: Mario Augusto
Da redação | 10 de maio de 2023 - 20:55
Foto de Philip Graves, na Unsplash

The Washington Post

Mesmo que você odeie praia, viva no interior e não se incomode com a diminuição dos peixes, o último aumento na temperatura dos oceanos é importante para você. O oceano é como um enorme armário onde conseguimos armazenar 90% do excesso de calor retido pelos gases de efeito estufa. Esse armário agora está recheado. As últimas leituras de mais de 4.000 boias em todo o mundo mostram temperaturas recordes da superfície do mar de janeiro a março deste ano.

E estamos à beira de mais um El Niño – uma mudança nos padrões de vento e nas correntes oceânicas que abre a porta do armário e permite que o calor e a energia se espalhem em nossa atmosfera. É aí que o calor enterrado no oceano volta para nos assombrar.

As mudanças nas temperaturas da superfície do mar não parecem muito – agora elas estão cerca de 0,2 graus C acima do normal. Mas significa muito quando expresso como energia adicionada ao sistema que inclui nosso oceano e nossa atmosfera. Somada, essa energia equivale a milhões de bombas atômicas. É a energia que fica presa no sistema por uma concentração crescente de gases de efeito estufa.

Essa energia pode se manifestar como ondas de calor ou tempestades, explica o climatologista Kenneth Trenberth, da Universidade de Auckland, Nova Zelândia.

Aumento das temperaturas

Embora as últimas notícias tenham se concentrado em novas medições de superfície, o aquecimento é mais profundo. No ano passado, Trenberth foi co-autor de um artigo mostrando que o oceano está esquentando até 2.000 metros. O calor não fica lá, graças aos padrões alternados de vento e correntes conhecidas como El Niño e sua contraparte, La Niña.

Os oceanos estão esquentando e o El Niño vai piorar

A poluição dos mares, mais um complicador para a questão ambiental. (Foto: Naja Bertolt Jensen/Unsplash)

O La Niña prevaleceu durante os últimos três anos. Durante esta fase, disse Trenberth, os ventos alísios empurram a água equatorial quente para o oeste através do Pacífico, onde se acumula na Indonésia. A cada dois a sete anos, isso muda para o padrão El Niño. Os ventos do leste diminuem o suficiente para que a água mais quente possa voltar para as Américas.

Agora, porém, com o rápido aquecimento geral, o ciclo pode se tornar mais intenso e já está criando condições mais extremas. “Quando pensamos no que define o termostato do nosso planeta, na verdade são os nossos oceanos”, explica Kim Cobb, oceanógrafa e climatologista da Brown University.

Embora haja mais capacidade de calor no fundo do oceano, a água aquece primeiro na superfície e, como a água fria é mais pesada, isso pode criar regiões de quietude doentia, onde a circulação normal para e crescem bolhas de oceano estagnado e sem oxigênio. É por isso que os cientistas têm observado zonas mortas alarmantes no Golfo do México, que são agravadas pelo escoamento de nitrato das fazendas.

“Afeta o fitoplâncton, o zooplâncton, os peixes, os mamíferos marinhos e as aves marinhas”, disse Trenberth. O aquecimento dos oceanos também leva a ondas de calor marinhas, que podem destruir florestas de algas e gramíneas que abrigavam peixes e mamíferos marinhos.

Leia também:
George Santos é preso em Nova York e vai responder a 13 acusações
Ilhas de plástico no Pacífico trazem uma nova ameaça ao meio ambiente

+ DESTAQUES