Ondas sonoras provocam supostos efeitos semelhantes às drogas químicas
Levantamento feito em 22 países, incluindo o Brasil, revela uma grande procura, entre os jovens, pelas chamadas drogas digitais ou drogas sonoras. Trata-se de aplicativos oferecidos por diversas plataformas que prometem, por meio de ondas sonoras, efeitos semelhantes aos de substâncias entorpecentes.
A pesquisa publicada pela revista científica Drug and Alcohol Review mostra que cerca de 5% da população mundial já buscou esse tipo de aplicativo. Entre os cinco países que encabeçam a lista, o Brasil é o terceiro, atrás apenas dos Estados Unidos e México.
Apenas o TikTok registra mais de 70 milhões de visualizações desses vídeos, que utilizam os chamados “binaural beats”. A técnica consiste em juntar dois sons emitidos em frequências muito próximas. Quando isso acontece, a pessoa passa a ouvir uma terceira frequência. Isso tudo daria, segundo os vendedores do serviço, uma experiência ao usuário semelhante à das drogas químicas. Sim, vendedores, porque o acesso às principais plataformas que oferecem o serviço é pago, embora também existam alguns gratuitos.
Mas os especialistas fazem dois alertas sobre o assunto: o primeiro é que não existe, cientificamente, a possibilidade de frequências sonoras produzirem efeitos semelhantes aos das drogas. Segundo, existem riscos físicos e psicológicos nesse tipo de experiência.
Uma vez que a maioria dos usuários é de jovens, a Sociedade Brasileira de Pediatria emitiu um documento sobre o assunto, alertando sobre os riscos existentes. Esse tipo de estímulo pode impactar a capacidade do cérebro de se desenvolver. Segundo os especialistas da SBP, a estimulação exagerada e contínua pode afetar as conexões necessárias para o desenvolvimento cerebral e mental saudável.
Vale lembrar que o desenvolvimento do cérebro, iniciado na infância é um processo de longo prazo, que se estende pela adolescência e até o início da vida adulta.
Outra preocupação está relacionada com o nível de intensidade do ruído dos fones de ouvido, que costuma variar entre 60-70 decibéis e 110-120 decibéis. Para crianças e adolescentes, o nível seguro é de 70 decibéis. Acontece que, para tentar obter o suposto efeito alucinógeno prometido, alguns adolescentes ouvem esses sons em níveis muito superiores aos recomendados, o que pode levar à perda auditiva.