Washington esperava que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fosse um parceiro, mas ele tem seus próprios planos em busca de protagonismo
The Washington Post
Em seus primeiros meses no cargo, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, se recusou a condenar a invasão russa da Ucrânia, permitiu que navios de guerra iranianos atracassem no Rio de Janeiro e despachou um assessor sênior para se encontrar com o venezuelano Nicolás Maduro.
A vitória eleitoral de Lula no ano passado sobre Jair Bolsonaro, o ex-militar admirador da ditadura que se aliou ao presidente Donald Trump e à direita global, aumentou o otimismo de que o país poderia ser um parceiro na promoção de normas democráticas no Hemisfério Ocidental e além.
Mas, em vez disso, Lula está lembrando ao mundo sua abordagem da política externa brasileira – que, de acordo com seu primeiro mandato, prioriza o pragmatismo e o diálogo, e mostra pouca preocupação se antagoniza Washington ou o Ocidente.
Lula recusou-se a aderir à condenação quase universal da invasão russa. O Brasil apoiou uma resolução da ONU no mês passado pedindo paz e exigindo que Moscou retire as tropas da Ucrânia. Mas semanas depois, Lula se recusou a assinar uma declaração da Cúpula para a Democracia do presidente Biden que condenava o ataque da Rússia ao seu vizinho. Um assessor sênior disse que Lula não acreditava que o fórum fosse o local apropriado para discutir a guerra.
Em contraste com o isolacionismo combativo de Bolsonaro, Lula há muito busca expandir o papel do Brasil no cenário mundial. Ele argumenta que o Brasil, que abriga mais pessoas do que os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, Rússia, Grã-Bretanha e França, deveria ser membro desse clube de elite.
“O Brasil quer reformar a governança mundial”, disse Celso Amorim, assessor sênior do presidente, ao The Washington Post. “Gostaríamos de ter uma governança mundial que não se parecesse com o atual Conselho de Segurança.”
A China e o Brasil retrataram seus laços entre si – e com a Rússia – como sendo de crescente importância global. Em entrevista à mídia estatal na terça-feira, o embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao, descreveu os BRICS como “um catalisador para mudar o sistema de governança global”. Nenhum dos países do BRICS atualmente impõe sanções à Rússia.
O Brasil conta com a Rússia como o principal fornecedor de fertilizantes para seu setor agrícola, o que alimenta suas crescentes exportações para a China. O comércio da Rússia com o Brasil e a China atingiu recordes em 2022.
Horas antes da chegada de Lula a Xangai, a mídia estatal chinesa informou que uma filial brasileira de um banco estatal chinês havia completado sua primeira transação internacional em moeda chinesa. O Banco Central do Brasil anunciou este mês que o yuan ultrapassou o euro como a segunda maior moeda de reserva internacional do país.
Lula também se reunirá com representantes da fabricante chinesa de carros elétricos BYD, que pretende assumir uma antiga fábrica da Ford na Bahia.
Espera-se que outros acordos envolvam investimentos chineses em capacidade de alta tecnologia no Brasil, incluindo instalações de energia solar e um novo satélite de observação que pode monitorar a floresta amazônica mesmo durante o tempo nublado.
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