CIÊNCIA

Casais do mesmo sexo poderão ter filhos biológicos no futuro

Pesquisa inédita feita por cientistas japoneses também poderá ajudar em casos graves de infertilidade 

Por: Marcelo Bonfá
Da redação | 8 de março de 2023 - 18:20

Cientistas japoneses criaram óvulos a partir de células de camundongos machos, descoberta que abre a possibilidade para a geração de filhos biológicos por casais do mesmo sexo, no futuro. O estudo, publicado na revista científica Nature, também pode contribuir em casos graves de infertilidade.

A descoberta foi feita pelo professor Katsuhiko Hayashi, da Universidade de Kyushu, no Japão. O professor é pioneiro no campo de cultivo de óvulos e espermatozoides em laboratório.

Basicamente, o que ele fez foi retirar uma célula da pele de um camundongo macho e transformá-la numa célula tronco, aquele tipo que pode se transformar em qualquer outra no organismo. Como se trata de uma célula masculina, ela tem os cromossomos XY. Então, ele deletou o cromossomo Y, duplicou o X e juntou os dois Xs. Essa mudança permite que a célula tronco seja programada para virar um óvulo.

O cientista, que apresentou o resultado do estudo na Conferência Internacional sobre Edição do Genoma Humano, no Francis Crick Institute, em Londres, prevê que será tecnicamente possível criar um óvulo humano viável a partir de uma célula da pele masculina dentro de uma década. Outros sugeriram que essa linha do tempo era muito otimista, visto que os pesquisadores ainda não criaram óvulos humanos viáveis cultivados em laboratório a partir de células femininas. Outro obstáculo é a questão da segurança que ainda merece um amplo debate pela comunidade científica e pelos governos.

Casais do mesmo sexo

O professor Katsuhiko Hayashi criou óvulos a partir de células masculinas. (Fotos: Universidade de Kyushu / Divulgação)

A técnica também pode ser aplicada para tratar formas graves de infertilidade, incluindo mulheres com síndrome de Turner, nas quais uma cópia do cromossomo X está ausente ou parcialmente ausente, e Hayashi disse que essa aplicação foi a principal motivação para o estudo.

O professor George Daley, reitor da Harvard Medical School, descreveu o trabalho como “fascinante”, mas acrescentou que outros estudos indicaram que aplicar o método a partir de células humanas é mais desafiador do que para células de camundongos. “Ainda não entendemos o suficiente sobre o tema para reproduzir o trabalho de Hayashi em camundongos”, disse ele.

A professora de biologia molecular Amander Clark, que trabalha com gametas cultivadas em laboratório na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, disse que traduzir o trabalho dos pesquisadores japoneses com células humanas seria um “grande salto”, porque os cientistas ainda não criaram óvulos humanos cultivados a partir de células femininas.

Os cientistas criaram os precursores dos óvulos humanos, mas até agora as células pararam antes da etapa crítica da divisão celular. “Estamos parados neste gargalo no momento”, disse ela. “Os próximos passos são um desafio de engenharia genética. Mas superar isso pode levar 10 ou 20 anos”, completou.

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