Elas são únicas, para cada um dos bilhões de habitantes do planeta, mas agora o segredo começa a ser desvendado
Entre os inúmeros mistérios deixados pela natureza, as impressões digitais figuram entre os mais intrigantes. Nenhum dos 8 bilhões de habitantes do planeta têm a impressão digital idêntica à de outra pessoa. Nem mesmo os gêmeos.
Desde que a impressão digital foi descoberta, em 1880, pelo antropólogo inglês Sir Francis Galton – primo de Charles Darwin – nunca foi registrado um único caso de repetição.
Tudo que a ciência sabia, até agora, é que elas se formam 7 meses antes do nascimento, estão associadas aos genes e acompanham a pessoa pela vida toda. Mesmo em casos de acidentes, se restarem alguns daqueles traços e mais a cicatriz, a digital continuará sendo única.
Mas agora os cientistas acreditam que estão perto de solucionar o mistério, de acordo com artigo publicado na revista científica Cell.
Os traços que formam a digital começam a surgir quando a gravidez chega aos dois meses, partindo de três pontos diferentes para formar os arcos e curvas da impressão. Isto acontece graças à interação de três moléculas. Em poucas semanas, as células se multiplicam para delinear as características únicas de cada pessoa. Nesse processo, as moléculas atuam como mensageiras na troca de informações entre as células. Agora, as moléculas que exercem um papel fundamental nessa troca foram identificadas como WNT, EDAR e BMP.
As primeiras moléculas, a WNT, dizem às células para se multiplicarem, formando os traços na pele e as demais interagem para que esses traços sejam únicos. O próximo desafio para os cientistas é determinar como as moléculas interagem para formar os padrões. “O que fizemos foi mudar o dial – ou seja a molécula – para cima e para baixo, a fim de observar como esses padrões se alteram”, disse o biólogo Denis Headon, da Universidade de Edimburgo, na Escócia, um dos autores do estudo publicado pela Cell. Em outras palavras, ampliando a atividade de algumas moléculas foi possível observar mudanças nos espaços entre as linhas, alterando as características da impressão.
Pai da computação
O estudo teve como ponto de partida uma teoria desenvolvida na década de 50, no século passado, por Alan Turing, o cientista considerado o pai da computação e da inteligência artificial. Turing já havia descoberto como as reações químicas interagem para criar padrões vistos na natureza. O que os cientistas fizeram agora foi utilizar modelos de computação para simular os padrões sugeridos por Turing. Com isso, chegaram às três características principais da impressão digital: o centro, a parte sob as unhas e as juntas, na base da impressão.
Os cientistas admitem que ainda faltam detalhes importantes para desvendar esse milagre da natureza, que consegue dar uma característica única para cada um dos bilhões de habitantes do planeta, além dos que já viveram e daqueles que ainda vão nascer.